Como regra geral, o «significado» das obras da música clássica ocidental é notoriamente difícil de expressar, excepo com termos técnicos especializados. Uma maneira de abordar este tema é considerá-lo a partir da posição eminentemente defensável de que, sub specie aeternitatis, a forma de arte elevada que a música clássica constitui, acede realmente a um campo de comunicação superlativamente elevado e supra-linguístico que desafia as definições meramente linguísticas e as restrições espaço-temporais da linguagem humana comum.
Na língua largamente esquecida da tradição
europeia, o latim, este campo de comunicação dimensionalmente expandido era
denominado musica universalis, ou
seja, a harmonia do universo resultante da interacção das suas várias esferas
(celestes).
Nessa Tradição — e noutras Tradições não europeias
— essa Música das Esferas era entendida como uma ressonância da primeira ordem
do Criador, porque o universo criado foi chamado à existência pela Sua Palavra.
Assim, supunha-se que uma verdadeira ressonância acústica do próprio acto da
criação continuava a «ecoar» — e a criar — através de todo o espaço e tempo.
Na verdade, presumia-se que a voz humana e toda a
música criada pelo homem, tinham um lugar dentro dessa grande e sempre crescente Música
das Esferas, embora com as suas próprias funcionalidades específicas, distintas
das dos coros seráficos e angelicais. Assim, à humanidade foi dada a capacidade de contribuir
para a grande obra do Criador, desde que a sua intenção e esforço estivessem
suficientemente «em sintonia» com a Sua partitura maior e dependente do dom
especial que a humanidade havia recebido de forma exclusiva: o «livre
arbítrio».
A tradição da música clássica europeia,
indiscutivelmente a forma de arte mais elevada produzida pela civilização
ocidental, pode ser vista como o proverbial canário na mina de carvão do
declínio cognitivo, artístico e cultural humano: ao longo do século XX, foi
sujeita a todas as formas possíveis de manipulação, degradação e perversão e,
em 1980, o «ano dos ABBA», quando o declínio do Ocidente ultrapassou o ponto de
não retorno, estava à beira da extinção. Logicamente, esta forma de expressão
artística humana rara, mais sensível e exigente começou a evaporar-se à medida
que o seu portador humano, o homem ocidental, começou a regredir para um estado
pós-humano e sub-humano. Assim, durante o apogeu da geração secularizada (e
posteriormente satanizada) da «contracultura» na década de 1960, a música
clássica europeia foi irrevogavelmente eclipsada pela «música pop(ular)»,
promovida por Tavistock e potenciada pela droga.
Uaxunctun - by Alexander Wolfheze - Alexander’s Substack
https://www.youtube.com/watch?v=iV3Fjnyok8w
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