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Mostrando postagens de junho, 2021
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             AMOR HUMANO Vs. AMOR HOMINÍDEO Não existe, seguramente, entre todas as aspirações humanas, nenhuma mais nobre do que amar e ser amado. Uma vida sem amor é uma vida sem substância e sem norte, condenada à esterilidade e ao desespero; pois nada há na criação – desde os átomos até aos anjos – que possa existir de forma totalmente isolada e independente.   E, entre todas as expressões de amor, talvez nenhuma nos desperte mais interesse – e, nenhuma certamente inspirou tantos poetas, filósofos e romancistas – como o amor entre um homem e uma mulher, que surgindo qual cataclismo interior de forças devastadoras, vai conhecendo ao longo das diferentes etapas da vida, expressões diversas, sempre caracterizadas – se o amor não estiver gangrenado pela concupiscência - por uma exclusividade recíproca que leva os amantes a fundirem-se, um no outro, e a tornarem-se um só. Andava eu relendo um tratado sobre o amor humano de Gustave Thibon, quando tropecei, na televisão, com uma rep
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  Uma das maiores riquezas e thesouros, de que gozamos os que temos Fé, é a providencia tão paternal e tão particular, que Deus tem de nós, pois estamos certos que nos não pode vir, nem acontecer cousa alguma, que não venha registrada e determinada pela mão de Deus; e assim diz o Propheta David: Tendes-nos, Senhor, cercado e defendido com a vossa boa vontade, como um fortissimo escudo. Por todas as partes estamos cercados da boa vontade de Deus, de tal sorte que nos não pode vir cousa alguma sem ser por sua via; e assim não ha que temer, porque este Senhor não ha de deixar vir, nem passar para nós cousa alguma , que não seja para bem e maior proveito nosso (Ps. 5. 18.) Oh se acabassemos de conhecer, e intender esta verdade! Quão amparados, e remediados nos sentiriamos, quão confiados, e consolados estariamos em todas as nossas necessidades, e trabalhos!  Se cá um filho tivesse um pae muito rico, e poderoso, grande privado, e muito favorecido do Rei, que confiado, e seguro estaria em
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                                                           A Tragédia da Educação Moderna                  “É natural ao ser humano o desejo de conhecer.” Quando li pela primeira vez esta sentença inicial da Metafísica de Aristóteles, ela pareceu-me um forte exagero. Afinal, por toda a parte para onde olhasse - na escola, em família, nas ruas, em clubes ou nas igrejas - eu via-me cercado de pessoas que não queriam conhecer coisíssima nenhuma, que estavam perfeitamente satisfeitas com suas ideias toscas sobre todos os assuntos, e que julgavam um acinte a mera sugestão de que, se soubessem um pouco mais a respeito deles, as suas opiniões seriam bem melhores. De facto, o traço mais conspícuo da mente da maioria era o desprezo soberano pelo conhecimento, acompanhado por um neurótico temor reverencial pelos seus símbolos exteriores: diplomas, cargos, presença nos media. Quem não tem cultura literária e histórica e um domínio razoável do legado cultural do passado, dificilmente adquir
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            Joana d’Arc não ficou imobilizada numa encruzilhada, uma vez que  que nem rejeitou todos os caminhos como Tolstoi, nem os aceitou a todos, como Nietzsche. Escolheu um caminho, e avançou por ele adiante como um raio. E, contudo,  meditando sobre ela, cheguei à conclusão de que Joana  tinha tudo quanto Tolstoi e Nietzsche tinham também - tudo o que era tolerável em qualquer deles. Pensei na nobreza de Tolstoi, no prazer com que ele se entregava a fazer coisas simples, em especial no prazer que retirava dos simples actos de piedade, das coisas práticas da vida, na reverência que tinha pelos pobres, pela dignidade existente nas costas curvadas. Joana d’Arc tinha tudo isso, a que acrescentou o facto de, para além de admirar a pobreza, ter sido efectivamente pobre, enquanto Tolstoi não passou nunca do típico aristocrata que anda à procura do segredo da pobreza. Pensei depois no orgulho e na coragem do pobre Nietzsche, em tudo que ele tinha de patético, e no motim que montou cont

Optávit, et datus est mihi sensus

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  Epístola da Missa Comemorativa de Santo António de Lisboa, Celebrada a 13 de Junho Extraída do Livro da Sabedoria 7: 7-14   Desejei a inteligência, e foi-me dada; invoquei o Senhor, e recebi o espírito de sabedoria. Preferia-a aos reinos e aos tronos, e julguei que as riquezas nada valiam em sua comparação.   Nem pus em paralelo com ela as pedras preciosas, porque todo o ouro em sua comparação é como um pouco de areia, e a prata deve ser considerada como lodo, à sua vista. Amei-a mais do que a saúde e a beleza, e resolvi-me a tê-la por luz, porque a sua claridade é inextinguível. Todos os bens me vieram juntamente com ela, e recebi de   suas mãos inumeráveis riquezas. Regozijei-me em todas as coisas, porque ia adiante de mim esta sabedoria, apesar de eu ignorar que ela é a mãe de todos estes bens. Aprendi-a sem intenções reservadas, e   reparto-a com os outros sem inveja, a ninguém ocultando as suas riquezas.   Porque ela é um tesouro infinito para os homens, e os que lhe obede
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  Pessoa revisitado Partilhe com os seus amigos 0 Shares                             Toada do Especialista Arrependido                                Conta a lenda que existia,                                Uma Princesa confinada                                A quem só libertaria,                                Um Especialista que viria,                                De zona descontaminada.                                Ele tinha que, testado,                                Dar negativo, também,                                Antes que, já inoculado,                                Ficasse desinfectado,                                Como, à Princesa, convém.                                A Princesa, adormecida,                                Espera, interdita, espera,                                Lembra, em sonho, sua vida,                                E, tem na fronte, indefinida                                Memória de uma outra era.                                Longe o E

A Longa Noite

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                                                          A "LONGA NOITE" DA INTELIGÊNCIA  Se há uma coisa que, quanto mais se perde, menos se sente a falta, é a inteligência. Uso a palavra, não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade. Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, essa perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, de quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro se fica, menos se atina com as contradições e dificuldades, e tudo parece explicável em meia dúzia de palavras.            Se, estas, as palavras vêm com a chancela da intelligentzia oficial, então, nada mais no mundo se   poderá opor à força avassaladora dos chavões que, num estalar de dedos, respondem a todas as perguntas, dirimem todas as dúvidas e instalam, com soberana tranquilidade, o império do consenso universal.  Refiro-me especialmente a expressões como “desigualdade s