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Mostrando postagens de junho, 2022
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                                                                                   AINDA OS FILÓSOFOS     Expressar a experiência real em palavras é um desafio temível até para grandes escritores. Tão séria é essa dificuldade que para a vencer foi preciso inventar toda uma gama de géneros literários, dos quais cada um suprime partes da experiência para realçar as partes restantes. Se, por exemplo, se fôr um Balzac ou um Dostoiévski, encadeia-se os factos numa ordem narrativa, mas, para que a narrativa seja legível, tem de se abdicar dos recursos poéticos que permitiriam expressar toda a riqueza e confusão dos sentimentos envolvidos. Se, em contrapartida, se fôr um Arthur Rimbaud ou um Giuseppe Ungaretti, pode-se comprimir essa riqueza nuns poucos versos, mas eles não terão a inteligibilidade imediata da narrativa. Essas observações bastam para mostrar que as idéias e crenças surgidas nas discussões públicas e privadas raramente se formam da experiência, pelo menos da experiência
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                                          Espírito e Personalidade                                                        O espírito chega até nós somente através do pensamento , mas o pensamento, por si só, não  o pode nem criar nem alcançar; o espírito é a verdade do pensado, verdade essa que, por definição, está para além do pensamento, mesmo quando este cria o seu próprio objecto. ‎Quando, por exemplo, criamos mentalmente um triângulo, este já traz em si todas as suas propriedades geométricas que o pensamento, nesse instante, ainda ignora por completo; e quando, através do pensamento, as tivermos descoberto uma a uma, ao longo do tempo, teremos de confessar que elas já estavam no triângulo mesmo antes que as apreendêssemos; e, mesmo quando apreendemos uma só dessas propriedades geométricas, apreendemos algo que já está previamente no triângulo e não no nosso pensamento. ‎ Não há, na esfera do mental, nenhuma diferença entre pensar o falso e pensar o verdadeiro. O pensament
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                                           A origem das opiniões dominantes O idiota presunçoso é, hoje em dia, o tipo mais representativo de qualquer profissão, incluindo a das letras, do ensino e do jornalismo. Ele forma a sua opinião de maneira imediata e espontânea, com base numa quantidade ínfima ou nula de conhecimentos, e agarra-se a ela com a tenacidade de quem defende um tesouro maior que a vida.   Na verdade, não se tratam propriamente opiniões, mas apenas de impressões difusas que não podendo encontrar expressão adequada, se acomodam mecanicamente a qualquer fórmula de sentido análogo, que o sujeito colheu no ambiente que o rodeia e que, daí em diante, vai julgar serem as suas opiniões pessoais - como se a conquista de uma autêntica opinião pessoal pudesse prescindir do esforço. O trajecto mental que o levou a essas opiniões inabaláveis escapa-lhe completamente, por ter sido percorrido à margem da sua atenção consciente. Literalmente, ele não tem a mínima ideia de como
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O que é a verdade?                                                                                Primeira Meditação de Ano Novo de 1999   Por vezes, do fundo obscuro da alma humana, soterrada por paixões e terrores, nasce um impulso de se libertar da densa confusão dos tempos e erguer-se até a um ponto onde seja possível ver, por cima do caos e das tormentas, dos prazeres e das dores, um pouco da harmonia cósmica ou mesmo, para além dela, um fragmento de luz da secreta ordem transcendente que governa todas as coisas. Este, é o impulso mais alto e mais nobre da alma humana. É dele que nascem todas as descobertas da sabedoria e das ciências, a própria possibilidade da vida organizada em sociedade, a ordem, as leis, a religião, a moralidade, e mesmo, por refracção, as criações da arte e da técnica que tornam a existência terrestre menos sofrida. Nenhum outro desejo humano, por mais legítimo, pode disputar-lhe a primazia, pois é dele que todos adquirem a quota de nobreza que possam ter,
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                                                                      Então, como correu a escola?     Lei n.º 38/2018 da república portuguesa:  Art. 1º:   Objeto  A presente lei estabelece o direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e o direito à proteção das características sexuais de cada pessoa.  Artigo 12.º:  Educação e ensino  1 - O Estado deve garantir a adoção de medidas no sistema educativo, em todos os níveis de ensino e ciclos de estudo, que promovam o exercício do direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e do direito à proteção das características sexuais das pessoas.  Artigo 14.º  Responsabilidade  1 - A prática de qualquer ato discriminatório, por ação ou omissão, confere à pessoa lesada o direito a uma indemnização, por danos patrimoniais e não patrimoniais, a título de responsabilidade civil extracontratual, nos termos do Código Civil.           E sta lei confere a um qualquer cidadão o direito de  impor, ao
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                                                                 AMOR, ALEGRIA E PREGUIÇA ESPIRITUAL   Há uma tendência moderna para considerar os santos como um grupo de pessoas azedas e mal-humoradas como se de puritanos se tratassem. Nada poderia estar mais longe da verdade. Os santos são sempre grandes enamorados; e o amor inunda os corações com o brilho da alegria - especialmente quando esse amor é por um Amigo Divino. Olhemos objectivamente, por um momento, para este facto. O amor une a nossa vontade à vontade do nosso amigo; a sua felicidade é nossa felicidade. Mas, quando se trata da Amizade Divina, desde o primeiro momento, o nosso Amigo não cessa de estar ligado intimamente connosco por meio daquela presença extremamente íntima da Graça Divina, que nos permite participar da Sua própria vida. Nada pode ameaçar a Sua felicidade; nada pode, portanto, ofuscar a alegria de nossa amizade. Esta é um facto que permeia toda a vida cristã: onde há caridade, há alegria. E o
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                                        AMOR E ÓDIO SEGUNDO SANTO AGOSTINHO «O preceito evangélico "amar o próximo como a nós mesmos" não implica termos de amar o próximo pela sua estupidez ou pelas suas iniquidades. Santo Agostinho expõe maravilhosamente as exigências do amor quando diz: “ Se odiares bem, amas; se amares mal, odeias.” Devemos odiar no próximo as coisas que não são de Deus ou que são contra Deus ; se assim procedermos, na realidade estamos a amá-lo, desejando a destruição do mal que o aflige e querendo que se aproxime do Bem Supremo. Se o amarmos pelos seus pecados ou pelos pecados que nos torna possível perpetrar, então, não o estamos a amar, mas a odiá-lo. Em qualquer dos casos trata-se do pecado mais grave que podemos cometer contra o nosso próximo.» A Companion to the Summa , Walter Farrell, volume III, pag. 57                         AMOR E ÓDIO SEGUNDO S. TOMÁS DE AQUINO   «S. Tomás diz-nos em que consiste o amor ao próximo em frases muito cu
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  Platão e Georges Bernanos já o tinham dito: a democracia não é o contrário da ditadura; é a causa da ditadura. Basta ver como a noção de direitos humanos é hoje utilizada para impor às pessoas novas formas tirânicas de controlo do comportamento, para se perceber que Platão e Bernanos tinham razão.  A democracia, só pode subsistir, se se apoiar em alguma coisa totalmente diversa, num sistema de valores extrapolíticos ou suprapolíticos, como por exemplo o cristianismo.  Mas a própria democracia tende a destruir esses valores e, de seguida, deixada a si mesma, transforma-se em tirania. A destruição de todos os valores, códigos morais, símbolos religiosos, lealdades hierárquicas e quadros de referência tradicionais não produz nenhuma apoteose da liberdade, mas, pelo contrário, eleva a actividade política à condição de último e único sistema de referência vigente, senhor e gerador de todos os padrões de conduta moral na sociedade.  Tudo democratizar é tudo politizar; e, quando não restam