Pessoa revisitado

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Erro e
Psicose
Conta a
lenda que havia,
Uma
Princesa confinada
A quem só
libertaria,
Um
perito que viria,
De zona
descontaminada.
Ele tinha
que, testado,
Dar
negativo, também,
Antes
que, já inoculado,
Ficasse imunizado,
Sem contaminar ninguém.
A
Princesa, interdita,
Espera; não injectada, espera.
Lembra, ainda,
sua vida;
E, tem na
fronte, indefinida
Memória
de uma outra era.
Longe o Especialista, apressado,
Sabendo que intuito tem,
Rompe o “perímetro cercado”,
Ele, já esterilizado,
Ela, ainda refém!
Mas, cada um cumpre o seu destino -
Ela, ficando isolada,
Ele julgando-se, sem tino,
Com o direito divino
De
a tornar vacinada.
E,
se bem que seja obscura,
Toda a informação, lá fora,
E falsa, ele vem seguro;
E vencendo cerca e muro,
Chega onde ela, hesitante, mora.
Mas, eis que, o seu ímpeto modera -
Que voz distante ouviria? -
Abre os olhos - quem o dissera?! -
E, vê que ele mesmo era
O Mal que a afligia.
João Faria de Morais, 10/6/2021
EROS E PSIQUE
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
Belo!
ResponderEliminarA lenda confundiu o "Especialista" e o Dragão.
Mas é padrão no conto, o manumissor. E Esse, a lenda não pode confundir.
Felicitações,
JJ