«... Alguns italianos, no entanto, estavam igualmente preocupados
com o efeito que os filmes americanos estavam a ter em Itália. Uma dos mais preocupados era o Papa Pio XII, que
tinha muito para dizer sobre o papel da televisão e do cinema. Mas, à medida
que Pio XII lentamente foi envelhecendo durante
os anos 50, outros assumiram a sua causa. O Cardeal Alfredo Ottaviani estava tão
apreensivo com os efeitos do cinema que criou a sua própria rede de cinemas, para
garantir que apenas filmes que não tivessem efeito prejudicial sobre a moral fossem
exibidos.
Ottaviani e Tardini estavam convencidos de que a
Igreja não se encontrava preparada para enfrentar a investida contra a moral e a vida
familiar orquestrada pelos media, a indústria do espectáculo e os Estados Unidos, seu suposto parceiro na
cruzada anticomunista.
No seu documento sobre “A Ordem Moral”, datado de 15 de Janeiro de 1962, Ottaviani criticava a “tentativa de transformar, o útil, o agradável, o bem da raça, os interesses de classe ou o poder do Estado, em critérios de moralidade.”
O documento de Ottaviani constituía um ataque a
ambos os lados da Guerra Fria, mas rapidamente se tornava perceptível, ao lê-lo, que os
ataques ao aliado da Igreja na luta anticomunista tinham precedência
sobre os ataques ao seu inimigo comum.
Ottaviani condenava
aqueles que criavam “ conflitos fictícios. . . entre arte e moralidade, ou entre liberdade de expressão e consciência ”, uma referência oblíqua à situação cada vez
mais difícil da Legião da Decência nos seus esforços para conseguir manter os padrões
morais da indústria cinematográfica perante os persistentes esforços de
Hollywood para exibir cenas de nudez no grande ecrã.
Ottaviani atacava todos os “erros que degradam a
dignidade humana sob o falso pretexto de libertar o homem de laços que
pretensamente restringem a sua natureza. E, continuava, “a ordem moral tem a tarefa, não
apenas de conduzir o homem ao seu verdadeiro fim, mas de o defender contra todas
as doutrinas e práticas que tornam a sua mente escrava de costumes e paixões
que são contrários à dignidade do seu intelecto. ”
Tornar as as mentes escravas de "paixões que são contrárias ao intelecto" era precisamente o objectivo das agências de Guerra Psicológica americanas; a sua propaganda visava conseguir que as respectivas mensagens escapassem ao controle racional das mentes, manipulando-as de forma a levar as pessoas a comprar coisas que não precisavam ou a aderir a ideias que lhes eram prejudiciais.
À medida que Ottaviani prosseguia, o objecto de sua ira tornava-se
cada vez mais evidente. Depois de nos dizer que “a ordem moral defende os
princípios imutáveis da modéstia e da castidade cristã”, continuava afirmando
que, “conhecemos bem as energias que estão a ser despendidas pelo mundo da
moda, do cinema e da imprensa para abalar os alicerces da moralidade cristã,
como se o Sexto Mandamento devesse ser considerado antiquado e devesse ser dada
rédea solta a todas as paixões, mesmo àquelas que são contra a natureza. Devem ser
condenadas todas as tentativas de fazer reviver o paganismo e todas as
tendências que, socorrendo-se da psicanálise, pretendem justificar até mesmo
aquelas coisas que são mais directamente contrárias à ordem moral ”.
Moscovo dificilmente poderia ser descrita como a
líder do “mundo da moda”, nem como uma importante produtora de filmes. O ataque
aqui era manifestamente contra o Ocidente em geral e Hollywood em particular.
Ottaviani condenava “o mundo moderno” in toto,
com a sua ênfase no “progresso técnico, os seus modos de vida e os seus
crescentes meios de propaganda e publicidade”.
Propaganda e publicidade que, é bom lembrar,
eram o modus operandi por excelência dos Estados Unidos e da CIA, putativos aliados do
Vaticano na guerra contra o comunismo.
Mas, no início dos anos 60, essa aliança tinha acabado. E tinha terminado principalmente porque se tornara claro que a “a propaganda e a publicidade”, contra as quais Ottaviani advertia, estavam a ser usadas mais - e muito mais eficazmente - contra os católicos do que contra os comunistas. Havia sinais de ambos os lados - Ostpolitik por parte do Vaticano e a campanha anticoncepcional por parte dos Rockefeller (para quem, convenientemente, a natalidade era a origem de toda a pobreza e não a concentração das riquezas nas mãos de uns poucos) - de que uma nova era estava a despontar; uma era que atingiria o seu ápice em 1974 na Conferência de Bucareste sobre População mundial, patrocinada pelas Nações Unidas, onde o Vaticano viria a formar uma aliança com os países do bloco comunista e do terceiro mundo para bloquear a tentativa dos Rockefeller de instituir quotas malthusianas de natalidade em todo o mundo. »
E. Michael Jones, Libido Dominandi
Saliento 2aspectos; talvez que o acordo do Vaticano com a URSS tenha influenciado o desenrolar do 25 Abril e descolonização das colónias portuguesas, os padres nas colónias ficaram estranhamente calados. O 2 aspecto tem a ver com o cinema TV e cultura americana mais propriamente a indústria porno disseminada pelo Tio Sam , pensou bem, quem são os patrões dessa indústria? Será que não são aqueles que ficam a abanar a cabeça junto ao muro? Sim esses mesmo que vestem de preto e mandam em wall street.
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