SEXO, (mas também) DROGA E ROCK AND ROLL

“No verão de 1965 as forças de “libertação” conseguiam duas importantes vitórias sobre a Igreja Católica, vitórias essas, imediatamente transmutadas em meios de controlo social: a indústria cinematográfica de Hollywood obteve a, há muito desejada, autorização para exibir cenas de nudez no grande ecrã, podendo assim atrair mais público às salas de cinema; e, o Governo Federal norte americano, ficou livre para usar a contracepção - a que se seguiria, nos anos 70, o aborto e a "educação sexual" - como forma de resolução de problemas sociais (a alta taxa de crescimento demográfico da população negra e católica, principais beneficiárias dos fundos da segurança social, há muito que preocupava a elite WASP dos EUA). 

A primeira destas vitórias originou um crescimento exponencial da indústria pornográfica, redefinindo as expectativas sexuais da população duma forma que veio a revelar-se devastadora para o sexo feminino. 

A segunda alterou o conceito de “rendimento familiar”, arrancando as mulheres do lar – agora, “libertas” do empecilho da gravidez e dos filhos –incorporando-as na força de trabalho e levando a que, em cerca de 30 anos, os dois esposos, passassem a trazer para casa ao fim do mês o mesmo rendimento que o marido  costumava auferir sozinho na geração anterior. 

O clã Rockeffeller gabava-se, a propósito, de em poucos anos, ter conseguido duplicar o número dos contribuintes norte americanos. 

Por de traz destes dois exemplos de “libertação”,  é fácil perceber um desígnio de controlo social; “controlo social” em sentido bem lato, uma vez que o resultado destas formas de “libertação” se traduz numa sociedade sexualmente desestabilizada, onde a maioria da população acaba por sucumbir à exploração económica das suas paixões, tornando-se escrava sexual e económica do poder. 

Como a tradição clássica salienta, as paixões obscurecem o intelecto e só o predomínio da Razão e da Moral (entendo-se por Moral, o modo de orientar a vida segundo a Razão em ordem ao Bem) pode dar estabilidade a uma sociedade. 

 Quem mina a ordem moral, mina a razão, criando o caos social e abrindo o caminho à "necessidade" de controlo da sociedade pelo estado.

Quanto mais pessoas, as elites iluministas modernas, conseguirem fazer trocar uma vida orientada pela razão, por uma vida desorientada pelas paixões, mais enfraquecida fica a instituição da Família , mais o caos social se agrava e maior número de pessoas, os “governantes invisíveis” de que falava Edward Bernays (sobrinho de Freud),  conseguirão controlar através da ciência iluminista da publicidade e propaganda - criada, precisamente, com o fim de,  excitar, manipular e tirar proveito económico e político dessas mesmas paixões. 

Os regimes liberais adoram substituir a moral pela tecnologia, uma mania que tem provocado desgraças atrás de desgraças nos últimos séculos; por exemplo, os Estados modernos ao promoverem a técnica contraceptiva, minam a ordem moral; minando a ordem moral subvertem a razão; subvertendo a razão destroem, o único freio eficaz das paixões; e as paixões sem freio levam à anarquia e, esta, ao controlo estatal.

O domínio do ser humano conseguido através das, "políticas de controlo da natalidade” é, bem mais, profundo, íntimo e invasivo e portanto mais eficaz, do que qualquer outra forma anteriormente conhecida de dominação política. 

Michel Schooyans, chama a atenção para o facto de que até “o proletário de Marx tinha ainda os filhos como sua única riqueza… enquanto o sistema actual empurra os indivíduos para uma situação de tal modo precária que os priva de qualquer controlo sobre o seu futuro concreto e o do seus filhos, gerando uma nova espécie de alienação, anteriormente desconhecida, que na prática impede a natalidade” 

Os efeitos das políticas de “controlo da natalidade” não são apenas mais radicais e abrangentes do que os da escravatura da antiguidade clássica;  os meios que utiliza são também diferentes: 

Em fez de  forçar violentamente as pessoas a agir duma determinada forma, ao sabor das suas conveniências, os “governantes invisíveis” das democracias liberais modernas, induzem os governados a agir segundo as directrizes sexuais por eles traçadas pois sabem que, controlando a transmissão da vida, dominam a vida humana desde a sua origem , ou seja, no seu ponto mais crucial. 

“Este tipo de dominação”, de acordo com Schooyans, “é simultaneamente, mais astuto, mais pernicioso e com efeitos mais fatais, tendo tido um desenvolvimento exponencial nos últimos decénios por força de duas decisivas ordens de factores: por um lado passou a beneficiar das mais sofisticadas técnicas de propaganda e doutrinação jamais existentes; por outro, a eficácia dessa propaganda  é garantida pelo uso intensivo dos meios de comunicação social de massa, pela indústria de entretenimento e pela escolaridade obrigatória” 

Para o totalitarismo contemporâneo já não se trata de exercer coacção física sobre os governados; trata-se de destruir o Eu de cada indivíduo – aquilo que há de mais pessoal em cada ser humano.  

Por essa razão um dos alvos preferenciais do totalitarismo contemporâneo é a vida intelectual. Até pode, em certas situações, ter de coagir fisicamente a população, mas geralmente procura reeducar os ainda capazes de pensar, filtrando, dirigindo e manipulando a informação disponível e procurando inculcar-lhes no intelecto uma qualquer ideologia (narrativa) “pré-formatada” - porque as ideologias têm tendência para ocupar a inteligência destruindo a capacidade crítica e aprisionando-a num “gulag do espírito”. 

 Pouco a pouco, os que ainda conseguem seguir um raciocínio lógico, são capturados pelos manipuladores do conhecimento, a soldo de um partido, de uma ideologia, ou de grupos de poderosos; a ciência, por exemplo, passa a só ser apoiada na medida em que sirva para a produção de novas tecnologias susceptíveis de serem integradas na estratégia de dominação global. 

Mas, o instrumento principal de controlo, são invariavelmente as paixões: “ o Homem, ao ser “libertado“ das peias da moral natural, sente-se excitado com a possibilidade de poder maximizar o seu prazer pessoal e acaba por negligenciar os riscos inerentes a essa actitude”;  alguém que baseia a sua vida nas paixões deixando de a orientar pelos princípios da razão e da moral, dificilmente poderá vir um dia a invocar estes princípios contra a prepotência e a exploração dos poderosos – até porque para se poder reagir contra o mal, é necessário ter, ainda, o discernimento suficiente para o reconhecer. 

Controlando o prazer na sua origem - v.g., na sexualidade - os governantes neoiluministas, conseguem simultaneamente controlar a vida humana desde o início e controlar também a consciência das vítimas  manipulando o seu natural sentimentos de culpa. 

Às consciências atribuladas dos que abandonaram o caminho da razão e da moral e enveredaram pelo caminho do vício, os engenheiros sociais modernos, fornecem as justificações - politicamente correctas, "científicas", igualitárias, de justiça social, etc. - que necessitam para se sentirem “absolvidas”  dos comportamentos que - ironia das ironias, - deram origem à sua escravidão; enquanto simultaneamente lhes vão fornecendo os meios para aliviarem os seus sentimentos de culpa, canalizando-os para um “activismo” de “causas” que, não por acaso, servem os interesses dos detentores do poder. 

A politica das democracias liberais modernas consiste, pois, invariavelmente,  no abandono do Logos através da promoção generalizada do vício; na colonização e controlo, pelo poder político e económico, da função procreativa indissoluvelmente ligada à sexualidade; e, finalmente na mobilização política, do sentimento de culpa, entretanto gerado pelo mau uso dessa função, para  “causas” escolhidos pelo poder; construindo, assim, um sistema de dominação de tal modo invasivo, que acaba por dar um novo significado à palavra “totalitarismo”.   

Schooyans, é um dos poucos que consegue aperceber todas as ramificações desta revolução biocrática: 

“Estamos no início duma guerra total, que ultrapassa os limites de tudo que conhecemos até agora. Esta guerra é verdadeiramente “total” na medida em que, através do controlo da origem da Vida, o poder político pretende controlar os seres humanos naquilo que possuem de mais inalienável: a sua existência, a sua capacidade de julgar e decidir e a sua capacidade de se responsabilizar perante a sua própria consciência.”

A essência da Respublica  dos clássicos era a devoção ao bem comum. A essência das democracias liberais modernas é a Vontade de Poder (Libido Dominandi); não o poder do povo, mas o poder duma facção contra outra. E, enquanto a Respublica precisava da Virtude para funcionar, as democracias modernas são uma mera organização política de apetites, limitando-se a gerir paixões, cada facção lutando pelo poder do Estado como meio de poder satisfazer melhor os seus desejos. 

E, como os políticos acabam por sucumbir, um a um, à atracção do dinheiro de que necessitam para satisfazer os apetites das massas em ordem a serem eleitos, a mesma ordem do Estado acaba por ser determinada por aqueles que podem pagar o preço mais alto . 

Por isso, os que "podem pagar o preço mais alto", promovem os apetites desenfreados das massas, pois sabem que o resultado final  deste esquema político , que no fundo não passa uma simples transacção financeira, será uma maior acumulação de poder nas suas mãos.

Quem tem o dinheiro, controla os apetites, e quem controla os apetites controla o poder. 

Wilhelm Reich achava que, através da libertação sexual, se chegaria ao socialismo. Afinal estava errado. O capitalismo revelou-se um sistema muito mais capaz  de promover e explorar os apetites desordenados, nomeadamente os sexuais, como forma de controlo político por meio da exploração económica: reduzindo todos os aspectos da vida humana a uma espécie de consumismo, pondo um preço em tudo que dantes era grátis, criando dependências económicas e espirituais, mas sempre em nome da liberdade.

No fundo, os asseclas do iluminismo, sabem que Santo Agostinho estava certo quando dizia, na Cidade de Deus,  que "um homem tem tantos senhores quantos os seus vícios". Mas embora aderissem ao conceito  reverteram os valores nele implícitos, promovendo o vício nas suas vítimas como forma de se tornarem simultaneamente os seus senhores económicos e políticos.

 Já Eurípedes em As Bacantes  tinha entendido prescientemente o que  aconteceria á Cidade se as mulheres fossem levadas a deixar os seus teares indo dançar nuas para as montanhas. 

Como Pentheus acabou por perceber, quando Dionísio lhe chamou a atenção, os apetites lascivos nascidos da visão de semelhante espectáculo, estavam a influenciar o modo como ele  lidava com a questão, pondo em perigo a ordem social e o próprio fundamento do Estado.

O feminismo foi o modo que os mandarins, que orquestraram a revolução cultural dos anos 60, encontraram para fazerem as mulheres "abandonarem os seus teares" e "irem dançar nuas para as montanhas"; e hoje assistimos a uma guerra  sem tréguas contra a natureza, através dos meios de comunicação social, da industria do entretenimento e de todas as instituições do Estado moderno, para impedir as mulheres de voltarem aos seus "teares", depois de se ter tornado evidente que a sua "libertação" báquica pouco mais lhes trouxe que crianças desmembradas, lares destruídos e, para citar as palavras de Agave na referida tragédia grega, "horror, sofrimento e angústia".

Aqui, como em tudo o mais, a modernidade, não é mais que as verdades da antiguidade viradas do avesso. O que Eurípedes entendia como um aviso, gente como Nietzsche e Reich (que cunhou a expressão Revolução Sexual), entenderam como exortação. 

Enquanto Eurípedes alertava para o perigo duma "libertação báquica" Reich explicava como o vício sexual podia ser usado para fins políticos. 

 Eurípedes entendeu, há 2500 anos, quem controla o comportamento sexual da população, controla o Estado.

Este é o principal preceito da Política moderna. 

Quem entender isto, entende porque a pornografia, a "educação" sexual  e o aborto e a contracepção financiados pelo Estado, são assuntos não negociáveis nas democracias liberais modernas. 

Sem eles, os "governantes invisíveis"perderiam todo o seu poder.


A partir de extractos de, Libido Dominandi, de E. Michael, Jones



 

 

 


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