«A única forma de salvar uma economia capitalista dos seus próprios excessos é, invariavelmente, o recurso ao Estado; mais precisamente a uma qualquer forma de tirania que tendo o poder de utilizar o erário público, possa resgatar o sistema bancário; foi precisamente o que sucedeu no primeiro grande ressurgimento do Capitalismo, depois da queda do Império Romano, ocorrido na Florença dos Medici, que acabou tendo um fim igual ao da antiguidade.  

Da mesma forma, as semelhanças entre o resgate do Banco Medici , levado a Cabo por Lourenzo de Medici e o resgate do sistema bancário realizado pela administração Obama, após o colapso de 2008, são flagrantes. 

 Na Florença de 1478, o Chefe de Estado e o dono do Banco eram uma e a mesma pessoa. Na américa de 2008, a situação era mais complexa mas, mutatis mutantis, na sua essência era a mesma.  

A recessão, em ambos os casos, foi causada por um sobreendividamento e a solução para esse sobreendividamento, passou pelo Estado que, saqueando o erário público, veio em socorro do sistema bancário, para controlar a bolha inflacionária causada pelo crédito mal parado.  

 O Capitalismo, no fundo, nada tem a ver com criação de riqueza, pois acaba sempre - no fim do inevitável ciclo crescimento/recessão - por destruir a riqueza que criou; tem a ver, sim, com o poder político, puro e duro, isto é, com a capacidade do Estado, recorrer ao dinheiro dos contribuintes para resgatar o sistema bancário quando os problemas causados pela usura inevitavelmente surgem.  

 O que salvou o Banco Medici da ruína em 1478 foi o facto de Lorenzo de Medici, ter o poder político necessário para conseguir saquear o erário público de Florença; o que salvou o sistema bancário internacional em 2008 foi o poder dos Estados para saquearem os erários públicos dos respectivos países. 

 Longe de ser inimigo do Estado, é da essência do Capitalismo depender do Estado; sem a sua protecção, não subsiste. 

 O Capitalismo, começa com uma injusta apropriação, pelos plutocratas, das mais-valias obtidas através do factor Trabalho – única fonte real de riqueza - através duma política de baixos salários.   

A subsequente acumulação excessiva de capital e a dificuldade em reinvestir as enormes quantias assim acumuladas, faz nascer a tentação de criar um sistema bancário que permita multiplicar essa riqueza, já não através do trabalho, mas por meio de empréstimos a juros que virão a “beneficiar” os trabalhadores com o dinheiro que seria seu se, de início, auferissem a justa remuneração do seu trabalho. 

 A desvalorização do factor trabalho é ainda exacerbada por uma excessiva carga fiscal, sobre o mesmo, aumentando a necessidade de recurso ao crédito por parte dos trabalhadores para poderem ter acesso a bens de primeira necessidade, como habitação, etc.. 

 Entretanto, os fundos públicos criados pelas receitas dos impostos, virão, no fim do ciclo, a servir para salvar os bancos da crise de crédito malparado, quando, à fase inicial de expansão criada pelo crédito, se seguir a inevitável recessão criada pelo crédito malparado. 

 

 Este ciclo vicioso tem por causa última a separação entre a economia e a moral ocorrida no o Renascimento. Aliás, os Medicis promoveram o retorno à cultura clássica pré-cristã, exactamente para se poderem livrar das peias morais que restringiam a sua actividade usurária.  

Como bem viram, São Bernardino de Siena e Santo Antonino de Florença só um retorno à valorização da única fonte real de riqueza – o Trabalho - ao conceito medieval e cristão do justo salário e ao fim da usura pode acabar com este ciclo gerador de miséria. 

Depois de Lourenço de Medici ter deitado a mão ao erário público para acudir ao seu banco, o Estado, teve de se haver com o deficit entretanto criado e tal como nos nossos dias as primeiras vítimas foram os fundos de pensões.  

Monte delle doti , depois de aliviado, pelos Medici, em 10 000 florins, anunciava em 1490, que cada uma das raparigas associadas receberia apenas um quinto do dote que estava inicialmente previsto levar para o seu casamento e teria de pagar juros dos outros quatro quintos se os quisesse receber.  

Este tipo de política financeira, seja na Roma da decadência, seja na Florença da Renascença, seja nas democracias liberais da actualidade, leva invariavelmente ao empobrecimento das populações que, também invariavelmente são distraídas da tirania e do saque de que são vítimas, por uma política de pão e circo.  

Seward, citando Villari, descreve a vida na Florença dos Medici, como “uma contínua folia e dissipação”, uma procura incessante de prazer fomentada pelo regime para impedir as pessoas de pensarem e de se interrogarem sobre a estranha forma de governo a que estavam sujeitas.

 Para conseguir escravizar os florentinos politicamente, Lourenzo teve de fomentar a sua corrupção moral. 

E, adianta ainda aquele autor, “a política dos Medici conduziu não só à escravidão política, mas também à escravidão moral dos florentinos”.  

Ironicamente, foi este o regime que ficou na História conhecido por Renascimento »

E. Michael Jones, Barren Metal

  

 

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