«É, hoje, um lugar-comum obrigatório associar a criminalidade às más condições de vida - isto é, à pobreza. Para a mentalidade bem pensante moderna pertencer a uma “classe social” mais desfavorecida implica, ou pelo menos justifica, em termos estatísticos, um rebaixamento moral que conduz, quase que inevitavelmente, a uma vida de violência, crime e corrupção.

 Para diminuir a criminalidade seria pois imperativo melhorar as condições de vida dos mais pobres.

Ora, isto, em português claro, significa dizer que os pobres não são de confiança; e, também, que só se tornarão de confiança quando enriquecerem.

Partindo desta tese, facilmente se poderá chegar - como as “elites” modernas chegaram - a uma conclusão, no mínimo estranha: se o facto de ficarem mais ricos faz dos pobres seres mais confiáveis, porque não confiar, desde já, nos que, actualmente, já são mais ricos?

Nestes termos, não há pois como fugir à conclusão de que as elites são os nossos melhores guias - e de que o “populismo“ é, na realidade, um mal terrível.

 

No entanto, a Igreja Católica sempre apresentou uma objecção racional a esta total confiança nos ricos; pois sempre argumentou que o perigo não reside no meio ambiente (no “nível de vida”) em que o homem vive, mas no próprio homem.

 E, tem argumentado igualmente que, se o problema estiver nos ambientes perigosos, os ambientes mais perigosos são os ambientes mais ricos.

“É mais fácil um camelo passar num buraco duma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”.

Ainda que estas palavras de Cristo significassem o mínimo que pudessem significar, ainda assim, no mínimo dos mínimos, significariam que é pouco provável que os ricos sejam moralmente dignos de confiança.

Um lugar-comum do Cristianismo é justamente a tese segundo a qual um homem que está dependente dos luxos desta vida é um homem corrupto: espiritualmente corrupto, moralmente corrupto, politicamente corrupto, financeiramente corrupto.

Há uma coisa que Cristo e os santos cristãos, afirmaram sempre com uma espécie de selvática monotonia: que ser rico é correr um risco particular de naufrágio moral.

É, pois, absolutamente anticristã a tese moderna segundo a qual os mais ricos, só pelo facto de serem mais ricos, são moralmente mais fiáveis do que os pobres.

O cristianismo continua, assim, a ser a única força que moralmente pode pôr em causa o poder das “elites” plutocráticas modernas.»

G.K.Chesterton

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