Platão e Georges Bernanos já o tinham dito: a democracia não é o contrário da ditadura; é a causa da ditadura. Basta ver como a noção de direitos humanos é hoje utilizada para impor às pessoas novas formas tirânicas de controlo do comportamento, para se perceber que Platão e Bernanos tinham razão.
A democracia, só pode subsistir, se se apoiar em alguma coisa totalmente diversa, num sistema de valores extrapolíticos ou suprapolíticos, como por exemplo o cristianismo.
Mas a própria democracia tende a destruir esses valores e, de seguida, deixada a si mesma, transforma-se em tirania.
A destruição de todos os valores, códigos morais, símbolos religiosos, lealdades hierárquicas e quadros de referência tradicionais não produz nenhuma apoteose da liberdade, mas, pelo contrário, eleva a actividade política à condição de último e único sistema de referência vigente, senhor e gerador de todos os padrões de conduta moral na sociedade.
Tudo democratizar é tudo politizar; e, quando não restam outros valores senão os políticos, então é a ditadura, como a definia Carl Schmitt, a pura luta pelo poder, que não pode levar senão à vitória dos mais fortes.
Hoje em dia, mesmo os debates ditos intelectuais ou científicos tornaram-se pura luta política, isto é, lobby, grupos de pressão, manipulação de verbas, intimidação dos inimigos, e assim por diante. É o resultado do "aprofundamento da democracia", e é indiscutivelmente ditadura.
Para salvar a democracia seria preciso saber limitá-la, isto é, restringir os critérios democráticos ao território estritamente político e limitar o território da política, instituindo para além da política uma zona onde os debates não sejam decididos por meios políticos mas pela razão, pela justiça, pela sabedoria e pelo amor.
Isto seria precisamente a função da cultura, mas a cultura já está quase completamente politizada e vamos a largos passos para a ditadura universal, sob o aplauso geral das massas.
Olavo de Carvalho
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