Guerras Justas e Injustas
Deve-se notar, no entanto, que o confronto de forças armadas que constitui a guerra não é em si pecaminoso. O pecado só entra na equação quando a guerra é injusta. Existem hoje duas opiniões extremas sobre o assunto. A primeira glorifica a guerra e não admite limitações legais à actividade militar. A outra condena totalmente a guerra, recusando-se a admitir qualquer justificação para hostilidades armadas entre nações.
Na verdade, essas opiniões contrárias são irmãs gémeas, filhas da mesma horrível mãe; elas têm a sua origem comum no materialismo ateu.
O princípio fundamental dos que glorificam a guerra é: “o poder tem sempre razão”. A lei, neste caso, é o ditame do mais forte. Isso equivale a uma deificação da força bruta, uma aceitação da lei do mais forte.
A opinião do extremo oposto tem em si a suavidade da corrupção e da desintegração. Por trás dela está a convicção de que as coisas destruídas pela guerra são as coisas supremas na escala dos valores humanos: a propriedade, a saúde, o dinheiro, o luxo e, até a própria vida.
Ambas as opiniões são más de raiz; mas, das duas, talvez o extremo do pacifismo absoluto seja o mais destruidor de tudo o que é são e distintamente humano.
Há coisas pelas quais vale a pena lutar; pelas quais vale a pena perder tudo o que o mundo material pode oferecer; pelas quais vale a pena perder a própria vida. Não podemos recusar-nos a lutar em qualquer circunstância sem estarmos a admitir que não há nada digno do esforço humano acima do que se pode alcançar neste mundo; do que se pode tocar com as mãos.
Estas opiniões modernas não são, no entanto, novidades. Já antes se tinha condenado incondicionalmente a guerra. Os maniqueus tinham a certeza de que a guerra era sempre um pecado; Lutero estava convencido de que lutar contra os turcos seria resistir à vontade de Deus, impedindo os Seus castigos; enquanto Erasmus, embora admitindo que a guerra poderia ter tido justificação na Antiga Lei, sustentava que, na Nova Lei do amor, certamente não teria.
Que a guerra, em algumas circunstâncias, é justificada não é uma mera opinião filosófica; um católico não é livre de a adoptar ou rejeitar pois trata-se de uma doutrina solene da Igreja; de facto, inúmeras vezes através dos tempos, a Igreja, por meio de seus Concílios e Sumos Pontífices, exortou os homens à guerra.
Talvez pudéssemos resumir as bases de uma guerra justa numa palavra: defesa. A justa causa para a guerra é repelir uma tentativa de injúria ou obter satisfação por uma injúria já sofrida. No primeiro caso, temos o que se chama de guerra defensiva; no segundo caso, o que se chama de guerra ofensiva. Em ambos os casos podemos ter uma guerra justa, pois em ambos os casos a acção é tomada em defesa de direitos.
A declaração clássica da moralidade da guerra exige três condições justificativas: deve ser declarada por uma autoridade competente; deve ser por uma causa justa; e deve ser travada com uma recta intenção . Estas três condições devem ser simultâneas. A guerra não deve ocorrer apenas porque a autoridade competente a declara; nem apenas porque tem uma causa justa; nem apenas porque a intenção de alguém é muito pura. Quando essas condições estão presentes simultaneamente, a guerra não é pecaminosa; é um acto de virtude, e uma defesa do bem comum.
Exemplos de tais guerras foram as cruzadas e a reconquista da Península Ibérica aos mouros.
Mas nem sempre é fácil determinar a justiça ou injustiça de uma guerra em particular, não porque os princípios não sejam claros, mas porque a evidência é muitas vezes difícil de obter. Neste caso, como em todos os outros casos de julgamento de um acto moral, é essencial que conheçamos toda a história, honestamente contada; mas romper a barreira de propaganda que envolve as guerras modernas é tarefa quase impossível, mesmo para as mentes treinadas dos historiadores.
A Companian to the Summa, Walter Farrel, Volume III, pag. 72.
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