Destruição de Sodoma e Gomorra
PSICOLOGIA TOMISTA
Sendo o homem um animal racional cujas capacidades racionais residem na alma, a antropologia era o estudo da alma e do modo de a estruturar por forma a que, adquirindo e praticando as virtudes, cada um conseguisse vir a ser semelhante a Deus, por um caminho conhecido por santificação ou theosis.
Para Sócrates, Platão, Aristóteles e Cícero psicologia era a ciência de, através do intelecto (primeiro) e da vontade (depois), determinar, adquirir e praticar as virtudes necessárias para cada qual alcançar uma boa vida e se tornar semelhante a Deus.
S. Tomás e os tomistas defenderam exactamente o mesmo, mas acrescentaram, com base na Revelação, terem as virtudes por prémio, a contemplação beatífica de Deus na eternidade.
A doutrina
de S. Tomás criou, no entanto, muitos anticorpos, mesmo dentro da Igreja. Um
dos seus maiores opositores foi Pedro Hispano o qual veio a ser o Papa João XXI que, enquanto tal, proscreveu o tomismo em geral e a S. Tomás em particular -
muito embora o Papa seguinte o viesse a reabilitar e a fazer Santo.
Aproveitando-se
da sua condenação os opositores do tomismo não tardaram em atacar as respectivas teses:
Os franciscanos
João Duns Scotus e Guilherme de Ockhan começaram por negar a tese tomista (e da
filosofia clássica), segundo a qual, o intelecto se sobrepunha à vontade, pondo
a tónica nesta última e negando a capacidade daquela para alcançar o conhecimento da
verdade.
Não sendo já possível, ao homem conhecer, por meios racionais, a verdade, só lhe restavam, então a vontade e a fé para se salvar.
Foi o que veio a defender Lutero, postulando que as virtudes e as boas obras, nada interessavam para a salvação da alma, uma vez que, pelo intelecto, não podíamos discernir se eram meritórias ou não. Por isso proscreveu, da sua versão da Bíblia, a Epístola de S. Tiago.
Não tardou que o protestante Emmanuel Kant separasse totalmente a prática das virtudes do seu prémio eterno (a beatitude), através do, por si inventado, Imperativo Categórico, que prescrevia a prática das mesmas virtudes, por si mesmas, através da força de vontade, e sem nenhum objectivo transcendente.
Contra esta noção seca e desalmada da virtude se rebelou o Romantismo, pondo a tónica, já não no intelecto (como os clássicos), já não na vontade (como Duns Scotus, Okan e Lutero), mas na imaginação e nas paixões.
Na sequência, Nietzsche negou a bondade das próprias virtudes e pregou o advento do super-homem cuja vontade de poder estaria para além do bem e do mal, sendo, por esse motivo, livre de realizar todas as suas pulsões e desejos.
Nietzsche, exerceu marcada influência sobre Freud vindo este a defender que todos os males do homem, pelo menos a nível mental, adviriam da repressão, pelo superego (pela consciência, pelo intelecto, pela razão), das pulsões e desejos do subconsciente, advogando que bom, mesmo, seria cada um libertar e realizar os seus próprios desejos por mais abstrusos que fossem, nomeadamente os sexuais.
Com Freud, chegou-se ao ápice da inversão da psicologia: em vez de ser a ciência que
estuda a alma com o fim de, esta, através da razão, se tornar virtuosa, se
assemelhar a Deus e vir a gozar da Beatitude Eterna, transforma-se na
"arte" de menorizar o consciente (a inteligência, a razão, a
capacidade de inteligir a verdade e o bem) e promover o subconsciente (a
imaginação, a emoção, a fantasia) a verdadeiro motor da humanidade.
Por isso René Guenon dizia ser, a psicanálise, o sacramento do diabo.
O facto de o Papa Francisco - como fez questão de confessar publicamente - se ter submetido à psicanálise, explica, nesta perspectiva, muita coisa.
Marx, inicialmente, e a Escola de Frankfurt, com Marcuse à cabeça, depois, transferiram esse objectivo para o domínio do político e do social, estabelecendo o reino, da irracionalidade, onde o (politicamente) correcto se traduz em cada qual poder realizar os respectivos desejos segundo lhe aprouver ("à minha maneira" como proclama uma conhecida canção) e o incorrecto, será, pelo contrário, alguém (família, Igreja, costumes, tradições) ter a veleidade de a tal se opor.
A Escola de Frankfurt, constituída por intelectuais neo-marxistas, todos (com uma única excepção) filhos de milionários e financiada por milionários, desenvolveu um extenso labor intelectual para tentar perceber o que, até então, teria corrido mal nas experiências marxistas, procurando estabelecer as bases duma revolução global bem-sucedida, através da combinação do Marxismo com o Liberalismo, promovendo a motores dessa revolução, não já os operários – ainda muito apegados, segundo ela, à moral tradicional - mas todos os grupos de excluídos (reais, imaginários ou criados ad hoc) como as mulheres, os negros, os homossexuais, os presidiários, etc..
Para a
Escola de Frankfurt e sobretudo para Marcuse, o inimigo a abater são, já não as
“classes dominantes” e o “capital”, mas o Cristianismo e a Civilização
ocidental clássica como um todo.
Segundo esta escola de pensamento, o Logos (a razão, o intelecto) é opressor e “castrador “das liberdades individuais. Para o combater propõe-se, pondo a tónica no phatos (emoção, imaginação), promover a revolução permanente através da implementação de um individualismo feroz que, transformando cada ser humano num pequeno Calígula, o estimule a reivindicar incessantemente uma panóplia crescente de “direitos” tendentes à satisfação das suas pulsões, mesmo as mais descabeladas, sobretudo as sexuais.
Já o insuspeito Marquês de Sade preconizava, durante a revolução francesa, o domínio do processo
revolucionário através do libertinismo sexual - uma vez tendo as pessoas deixado de orientar a sua vida pela razão e passando a orientá-la pela procura da satisfação das suas paixões e desejos tornam-se, facilmente manipuláveis por quem tiver o poder de lhes proporcionar ou restringir semelhante satisfação.
A Escola de Frankfurt concebeu assim uma revolução permanente baseada numa combinação, dum Liberalismo levado às suas últimas consequências, com o Marxismo, que se traduz, na prática, numa aliança entre o mega capital e os movimentos de esquerda.
Por isso Chesterton profetizava vir a mais perigosa revolução, não de Moscovo mas,
de Manhattan.
Vivemos, sem disso nos apercebermos, num mundo dominado pelas ideias de Nitzsche, Freud, Marx e, sobretudo Marcuse.
A revolução marcusiana, tendo, como primeiras manifestações, o Maio de 68 - cujo lema era, não por acaso, a imaginação ao poder –, o Movimento Hippie – com a defesa do amor livre -, o festival Woodstock – sex and drugs and rock and roll - , etc., veio a invadir todo o meio universitário na Europa e Estados unidos, acabando hoje por dominar todas as estruturas de poder a nível mundial, desde a ONU, à UE, passando pelos governos nacionais, ONGS, agências de comunicação internacionais e indústria do espectáculo, constituindo, presentemente a mais bem-sucedida revolução da História.
A Igreja Católica, depositária duma sabedoria várias vezes milenar, cedo se apercebeu disto mesmo. Sabe-se hoje, segundo documentos e testemunhos da época, que Pio XII, e os Cardeais Ottaviani e Tardini, já nos anos 50, estavam convencidos de que a Igreja não se encontrava preparada para enfrentar "a investida contra a moral e a vida familiar orquestrada por Washington, com a ajuda dos media e da indústria do espectáculo."
No seu documento sobre “A Ordem Moral”, datado de 15 de Janeiro de 1962, Ottaviani, atacava ambos os lados da Guerra Fria, mas rapidamente se tornava perceptível, ao lê-lo, que os ataques ao ocidente tinham precedência sobre os dirigidos ao inimigo de leste.
Ottaviani condenava aqueles que criavam “conflitos fictícios. . . entre arte e moralidade, ou entre liberdade de expressão e consciência ”, uma referência oblíqua aos ataques persistentes de Hollywood aos padrões morais da indústria cinematográfica e à proibição até aí vigente de exibir cenas de nudez no grande ecrã.
E, continuava, “a ordem moral tem a tarefa, não apenas de conduzir o homem ao seu verdadeiro fim, mas de o defender contra todas as doutrinas e práticas que tornam a sua mente escrava de costumes e paixões que são contrários à dignidade do seu intelecto. ”
Tornar as as mentes escravas de "paixões que são contrárias ao intelecto" era precisamente o objectivo das agências de Guerra Psicológica norte americanas; a sua propaganda visava conseguir que as respectivas mensagens escapassem ao controle racional das mentes, manipulando-as de forma a levar as pessoas a comprar coisas que não precisavam ou a aderir a ideias que lhes eram prejudiciais.
E, Ottaviani prosseguia, “conhecemos bem as energias que estão a ser despendidas pelo mundo da moda, do cinema e da imprensa para abalar os alicerces da moralidade cristã, como se o Sexto Mandamento devesse ser considerado antiquado e devesse ser dada rédea solta a todas as paixões, mesmo àquelas que são contra a natureza. Devem ser condenadas todas as tentativas de fazer reviver o paganismo e todas as tendências que, socorrendo-se da psicanálise, pretendem justificar até mesmo aquelas coisas que são mais directamente contrárias à ordem moral ”.
Moscovo dificilmente poderia ser descrita como a líder do “mundo da moda”, nem como uma importante produtora de filmes. O ataque aqui era manifestamente contra o Ocidente em geral e Hollywood em particular. Ottaviani condenava “o mundo moderno” in toto, com a sua ênfase no “progresso técnico, os seus modos de vida e os seus crescentes meios de propaganda e publicidade”.
Propaganda e publicidade que, é bom lembrar, eram o modus operandi por excelência dos Estados Unidos e da CIA, putativos aliados do Vaticano na guerra contra o comunismo.
Nos anos 60
tornara-se claro que a “a propaganda e a publicidade”, contra as quais
Ottaviani advertia, estavam a ser usadas mais - e muito mais eficazmente -
contra os católicos do que contra os comunistas. Havia sinais - como a campanha
anticoncepcional dos Rockefeller (para quem, convenientemente, a natalidade era
a origem de toda a pobreza e não a concentração da riqueza nas mãos de uns
poucos) secundada pela administração norte americana - de que uma nova era
estava a despontar; uma era que atingiria o seu ápice em 1974 na Conferência de
Bucareste sobre População mundial, patrocinada pelas Nações Unidas, onde o
Vaticano viria a formar uma aliança com os países do bloco comunista e do
terceiro mundo para bloquear a tentativa dos Rockefeller, com o apoio dos EUA, de
instituir quotas malthusianas de natalidade em todo o mundo.
Hoje, chegámos a um estado de coisas em que já ninguém estranha e, pelo contrário, todos apoiam, promovem, subsidiam e protegem legalmente que, por exemplo, um alienado qualquer tenha a fantasia de, através de intervenções cirúrgicas e medicamentosas, poder mudar de sexo – pretensão necessariamente irrealizável mas incentivada por médicos, psicólogos, sistemas de saúde e educativo, etc. ...
Contra a o império da emoção, da fantasia e das pulsões alimentado pela psicologia moderna, ergue-se a Psicologia Tomista em prol da razão, da realidade e do bem que com nos escritos de Aristóteles, Cícero e S. Tomás procura curar a alma e tem por objectivo final, salvá – la, através dum processo que os Sacerdotes tradicionais bem conhecem:
1- Identificar as paixões dominantes.
2- Combater essas paixões.
3- Desenvolver, assim, uma maior tolerância à dor e às adversidades.
4- Re-centrar a personalidade na inteligência (e não na fantasia, imaginação - no subconsciente.)
5- Cultivar as virtudes contrárias às paixões dominantes.
JFM 22-11-2019)
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