Lisboa, 26 Ago. 2022.  A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou hoje o relatório sobre o sínodo da sinodalidade. O documento pede “uma Igreja de portas abertas, que abrace a diversidade e acolha todos, excluindo as atitudes discriminatórias que deixam à margem a comunidade LGBTQIA+ e os divorciados recasados”. 

O texto fala ainda em voto de celibato opcional



              Pensamento confuso ou... total ausência de pensamento

«Santo Agostinho definiu a paz como “a tranquilidade da ordem”, tornando, assim, claro que é necessário haver ordem para poder existir paz.

A ordem, por sua vez, é simultaneamente fruto da inteligência e a primeira lei da inteligência. Onde vemos ordem podemos ter a certeza que aí esteve a inteligência.

Mas, o preço a pagar para existir ordem é alto. Esse preço chama-se sujeição. Ou seja, para poder existir ordem tem de haver sujeição.

A ordem do universo resulta de leis físicas que estabelecem relações de sujeição entre as criaturas, umas servindo as outras.

Na ordem humana essa sujeição só pode ser de natureza moral; isto é, sujeição a uma força moral que deixe livre o domínio do homem sobre a ordem física.

 Se a sujeição do homem for de ordem física, trata-se de tirania. Esta, pode, até, acabar com todos os conflitos numa sociedade dando a ilusão de paz, mas nunca será uma sujeição correctamente ordenada.

Por outras palavras, a verdadeira sujeição significa que todas as coisas estão no seu lugar. E, quando tudo está no seu lugar, temos paz, progresso, estabilidade - a ordem porque toda a natureza anseia - ou seja, temos a perfeição.

Os anjos sujeitos à Lei divina, contrastam tão vivamente com os anjos rebeldes, como o homem justo contrasta com o assassino ou o cidadão pacífico com o anarquista.

 Em todos estes casos o mais perfeito é o mais submisso.

Dizendo doutro modo, só existe um Ser totalmente independente, que a nada está sujeito, porque só existe uma Primeira Causa. E, sem ser Ele, quem quer que se julgue Deus, mais não faz que uma tristíssima figura.

Tudo tem o seu lugar na harmonia do universo - o lugar certo. Esse lugar é sempre superior a uns e inferior a outros lugares.

Tudo no universo tem o seu lugar próprio e isso significa submissão ao que lhe é superior e dominação sobre o que lhe é inferior.

Hoje, no que à ordem humana diz respeito, tende-se a não aceitar esta verdade óbvia e a crer que o homem é o mestre dos mestres, sem ninguém que lhe seja superior e nada que não lhe seja inferior. Este retracto é obviamente falso e encerra toda a fealdade dum mundo distorcido e caótico.

A razão desta mentira, no entanto, é fácil de entender dada a natureza humana; o homem tem tendência para confundir sujeição com tirania e degradação; e gosta de se julgar auto-suficiente.

Sendo assim, não é, pois, de admirar que a nossa época olhe para a virtude de religião, que é essencialmente uma virtude de sujeição, como algo de detestável ou no mínimo sem importância ou totalmente subjectivo.

Mas, a religião, que mais não é que um acto de sujeição a Deus, não é uma falta de respeito por nós próprios, mas, uma forma de fortalecer esse respeito. Não é algo de subjectivo ou uma questão de gosto, nem um favor que fazemos a Deus. É um acto de reconhecimento duma verdade evidente; é um acto de estrita justiça, que dá a Deus o que Lhe pertence e recusa tirar a Deus o que é dEle; de tal forma é assim que a violação ou a negligência da virtude de religião traz com ela todos os efeitos caóticos do vício anti-social da injustiça.

A religião vê Deus como o primeiro e derradeiro princípio do Homem, como a fonte de tudo que ele é e o fim de todos os seus desejos e acções.

 A religião dá o tributo de respeito e submissão à infinita perfeição da Primeira Causa, ao infinito bem do Fim Último. O homem tem de ter um princípio e tem de ter um fim; fim e princípio, que lhe são muito superiores.

A religião é, assim, um tributo à verdade das coisas, tal como elas são - à estrutura da realidade.

A religião é uma questão de justiça; é dar a Deus aquilo que Lhe é devido, como primeira e última causa de todas as coisas.

A beleza e solemnidade das cerimónias religiosas mais não são que os ornamentos com que o homem reveste a honra e o respeito que Deus merece

No entanto, o objecto da religião não é o próprio Deus mas a dívida que temos para com Ele, por isso não se trata duma virtude teologal, mas moral; tem a ver com o pagamento duma dívida por meio de acções realizadas pelo homem; é a virtude que aperfeiçoa a vontade do homem por forma a que possa dar a Deus o que Lhe é devido. Por outras palavras é um acto de justiça; e é, sem dúvida, a mais alta das virtudes morais pois é, de todas, aquela que mais aproxima o homem do que é melhor para ele nesta vida – o seu fim último.

Através da religião, por um lado reverenciamos a excelência de Deus e, por outro, manisfestamos-Lhe a nossa sujeição como Suas criaturas, que somos. Não podemos adorar a Deus sem Lhe estarmos sujeitos sob pena de tornar essa mesma adoração inútil e sob pena de castigo.

Isto significa que não podemos adorar a Deus sem nos aperfeiçoarmos e para nos aperfeiçoarmos temos de nos sujeitara Ele. A sujeição que a religião implica é a sujeição a um superior, colocando o homem no lugar que lhe pertence na ordem do universo.

Não se trata da sujeição de escravo a uma tirania, nem dum sinal de degradação; trata-se da sujeição à perfeição, ao fundamento de toda a ordem, à fonte de toda a paz, estabilidade e progresso na vida humana.

É uma regra universal que o homem atinge a perfeição, não pelo contacto com inferiores, mas pela sujeição aos que lhe são superiores. E, nesse sentido, a religião está tão ordenada à adoração de Deus comoao aperfeiçoamento do homem , porque cada acto de religião sujeita o homem áquEle a quem deve submissão.

Deus é todo glorioso, nada Lhe podemos dar; os actos de adoração e submissão que Lhe votamos, são somente em nosso benefício e em ordem a podermos atingirmos a perfeição pois, um homem não pode aplicar os seus pensamentos em Deus, sem partilhar, de alguma forma, da sua perfeição.

A religião é uma humilde criada, atarefada com os seus afazeres domésticos na casa do Senhor do universo, procurando constantemente prestar-Lhe o serviço que Ele merece.

A santidade significa uma total sujeição que ultrapassa o mero serviço, uma sujeição que só pode ser ditada pelo amor. 

A santidade, ou seja, a perfeição do homem, é directamente proporcional à sua sujeição a Deus.


Um voto, é uma promessa pela qual nos obrigamos a algo; obrigamo-nos sob pena de pecado.

Foi esta noção de obrigação acrescida que tornou os votos tão detestáveis para Lutero e os primeiros protestantes. Para eles os votos eram algo de nocivo, pernicioso e imoral, porque, em razão dessa obrigação acrescida, limitavam (segundo eles) a liberdade humana, mais do que a própria lei. Viam os votos como grilhetas prendendo os homens; não conseguiam ver, no entanto, que os votos eram grilhetas douradas forjadas pela vontade deliberada do homem e usadas com alegria, como joias divinas.

O paradoxo de se usar cadeias para se ser mais livre, era para os protestantes inapreensível; porque tinham perdido a noção da verdade fundamental que afirma não poder existir maior perfeição do que a de se prender o homem a Deus; pois não há maior liberdade do que alguém se sujeitar a um superior.

Por outras palavras, o homem tanto mais se eleva, quanto mais se curva em nome da religião.

É verdade que os votos prendem o homem; mas, prendem-no a Deus. Violar os votos feitos é pecado de falta de Fé contra aquEle que merece a maior das lealdades. Os votos ligam o homem a Deus porque são promessas que Lhe são feitas e por esse facto são actos de religião pelos quais o homem se sujeita a Deus. 

Quando Deus nos pede uma promessa, podemos começar logo a melhor arrumar o nosso cofre-forte para abrir espaço para todos os tesouros que iremos receber em resultado desse voto; porque, o óbvio resultado dum voto religioso é dar solidez e firmeza à nossa vontade precisamente naquelas coisas que nos são mais vantajosas – as que contribuem mais para a nossa perfeição.

O voto é uma espécie de consagração. Fixa a nossa vontade no bem. Faz-nos dedicar, não só as nossas acções a Deus, mas também as próprias faculdades pelas quais esses actos são feitos. Não se trata de algo momentâneo, de um entusiasmo passageiro de que apenas fica, no fim, o eco; é uma consagração profunda e duradoura muito superior aos votos guerreiros dos cavaleiros de antanho.

O voto tem aquele toque mágico capaz de transformar um mendigo num rei; porque os votos abarcam todo o campo da actividade humana e, a tudo que tocam, envolvem na roupagem dourada da religião. 

Sem surpresa, o mundo moderno, vê os votos religiosos, com grande lástima. “Envolvem tantos sacrifìcios!” “Quanto, da vida, estão a perder estes homens e mulheres?” 

Esta maneira de encarar os votos religiosos nunca foi a da Igreja Católica. E, se esta maneira moderna de olhar os votos começou a infiltrar-se na Igreja Católica é porque desgraçadamente esta começou a absorver uma visão da vida que é totalmente contrária à doutrina de Cristo. 

Essa não pode jamais ser a mundivisão Católica; não só porque é diametralmente oposta à de Cristo, mas porque tem origem num pensamento confuso ou ... numa total ausência de pensamento.»

Walter Farrell, A Companion to the Summa, Volume III, págs. 142 a 162

 

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