"O Ocidente é o reino da mentira"
Vladimir Putin
A Guerra na
Ucrânia não é apenas um conflito entre a Rússia e o Ocidente.
Nem é, tampouco, um conflito entre duas filosofias ou visões diferentes do mundo; é, bem mais do que isso; é, um
conflito a montante das concepções filosóficas - um conflito ao nível da relação do homem com
aquilo que o faz ser homem: a linguagem.
O que está, nela, em causa é a relação do homem com a Palavra; essa mesma relação que tem vindo a ser
modificada e desconstruída, no Ocidente.
Na sociedade ocidental o homem passou a ser um deus que tem o poder até, se quiser, de recriar o Homem e a Mulher - ou melhor, de anulá-los - e já nada tem que respeitar, nem nada lhe é ditado.
Estamos perante um conflito entre, por um lado, uma sociedade que se tornou incapaz de
pensar a realidade a não ser ideologicamente, e, por outro, uma
sociedade impregnada das antigas formas de representação - formas, essas, produzidas
pela realidade, articuladas com a realidade, com a história e com a natureza.
O conflito vem do facto de nós, no Ocidente, termos tornado autónoma a esfera da linguagem e o imaginário que a linguagem veicula.
Nós, criámos a nossa própria realidade; e, ficámos maravilhados com o poder que essa ferramenta nos conferiu.
Demos forma de vida aquilo que não passa de um conjunto de signos, tendo-nos desligado, assim, do mundo.
A linguagem, no Ocidente, libertou-se da realidade e adquiriu a sua própria articulação, a sua própria gramática, a sua própria retórica, em suma, a sua autonomia; e essa libertação - semelhante ao divórcio, que ocorreu, também no ocidente, entre do dinheiro e a riqueza real - deu aos homens uma sensação de poder total, tornando-os rivais dos deuses e intoxicando-os nessa sua luta prometaica.
Para eles deixou
de haver limites; já nada tem peso e gravidade; a morte quase deixou de existir.
O mundo - iludem-se eles - finalmente pertence-lhes.
O Ocidente
perdeu qualquer relação com o mundo, com a finitude, com a materialidade. Se algo
o incomoda, nega-o; tudo se tornou abstracto, tudo se desmaterializou. A
digitalização neste aspecto tem sido um desastre, com a concomitante ascensão
do virtual.
A Rússia, pelo contrário, representa o mundo clássico e orgânico. É, simplesmente, um Estado nacional defendendo os seus valores fundamentais, a sua essência e as suas raízes. No mundo russo, o imperativo público, o bem comum é mais importante do que a vontade individual.
Não é por acaso que no Ocidente as chamadas camadas populistas, antiquadas e reaccionárias, geralmente estão do lado russo e dos seus valores tradicionais e não do lado dos “valores” ocidentais.
O Ocidente adora
o mito do poder individual total, do capital auto acumulado, da força da
vontade individual, julgando que esta pode superar a realidade, a
biologia, a física, a história… e até mesmo a simples aritmética.
“Podes ser o que quiseres”, "Yess, you can", " I did It my way" "eu fi-lo porque qui-lo", dizem os pregadores modernos. Trata-se de uma típica ilusão psicopática, própria de um mundo centrado no ego que leva a um desejo demiúrgico de transgressão que não é apenas sexual, mas generalizado e invasivo.
Não querem perder o controlo que exercem através da magia encantatória do seu discurso imaginário, da sua neurose, da sua visão psicótica da vida.
Querem controlar até o orgânico, até o natural, tudo o
que não coincida com a sua loucura - tudo o que resista à, sempre crescente, espansão da
bolha que criaram em seu redor - tentando histericamente silenciar e eliminar todas as dissonâncias, toda a dissidência.
Daí os esforços colossais nos Mídias, nas universidades, nas grandes empresas, nos aparelhos estatais, para impor a normalização... do anormal - restringindo cada
vez mais o espaço daqueles que querem continuar a ser, ao menos,... orgânicos.
Bruno Bertez, 18/12/2022
Je pense que cette guerre est bien plus qu’un conflit entre la Russie et l’Occident. – brunobertez
É preciso não ter ponta de vergonha para um tipo do KGB, especialista em desinfomatzia, vir falar de verdade e mentira. Falta de vergonha do Putin e de quem o cita.
ResponderEliminarEste seu comentário reforça a pertinência do artigo
EliminarO autor ainda está agarrado às filosofias medievais onde só os poderosos eram senhores da verdade. A Rússia não viveu o iluminismo, que libertou o Ocidente das doutrinas da fé e a ciência e o racionalismo libertaram o homem das teias de aranha que envolviam o pensamento. A Rússia continua a ser um estado imperialista feudal, onde não existe liberdade e o poder é dominado por sanguinários.
ResponderEliminarMesmo que o seu comentário tenha um fundo de verdade, isso não retira nenhum mérito ao artigo publicado
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