A
AVENTURA DA TRADIÇÃO CRISTÃ
E, quanto mais eu reflectia no Cristianismo, mais
me apercebia que as regras e a ordem que
estabeleceu se destinavam a permitir qua as coisas boas pudessem prosperar à
vontade; era necessário definir as doutrinas de forma muito rigorosa, para que
as pessoas pudessem ser livres; a Igreja tinha de ser cuidadosa, quanto mais
não fosse para que o mundo pudesse ser descuidado.
É este o emocionante romance da tradição cristã. As pessoas adquiriram a tola convicção de que a tradição é uma coisa pesada, enfadonha e segura; a verdade é que nunca houve coisa mais perigosa, nem mais animada.
Ser tradicional é ter sanidade mental; e, ter sanidade mental, é muito mais interessante do que ser louco.
A Igreja Tradicional nunca se deixou domesticar; nunca aceitou as convenções; nunca se deixou levar pelo “espírito do tempo”.
Teria sido muito mais fácil
aceitar o poder terreno dos arianos, no século IV, quando a heresia ariana
dominava o mundo conhecido; como teria sido mais fácil, no século XVII calvinista, deixar-se cair no poço sem
fundo da predestinação.
É fácil ser louco; é fácil ser herege; é sempre fácil deixar o século levar a sua avante - o difícil é resistir-lhe.
Ser moderno, é sempre mais fácil.
Teria sido realmente muito simples a Igreja ter-se deixado cair em qualquer uma das armadilhas do erro e do exagero que, moda após moda e seita após seita, montaram no seu caminho.
A coisa mais óbvia, a
actitude mais domesticada, teria sido efectivamente deixar-se levar por qualquer
desses caprichos, desde o gnosticismo até ao modernismo.
Tê-los
evitado é que foi a mais espantosa das aventuras.
G.K.Chesterton, Ortodoxia (1908)
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