ECONOMIA VIRTUOSA
Juan
Manuel de Prada – 21/10/2019
Veja-se, por exemplo, o afã com que se promove hoje um medo histérico das supostas “alterações climáticas”, propondo-se combatê-las com soluções científicas e sociais manifestamente estéreis e contraproducentes e esquecendo que só uma regeneração moral e espiritual dos povos poderia suster essas alterações
Na verdade, é pura ilusão esperar que uma economia, baseada no fomento e expansão contínua do consumo, se disponha, algum dia, a combater as causas da degradação do ambiente. Deste tipo de economia, o máximo que se poderá esperar é um arrazoado de propostas moralistas e demagógicas - como o combate às emissões de CO2 e a guerra ao consumo de proteínas animais.
As massas cretinizadas exigem, com indignação, uma economia “sustentável”, enquanto, sem se aperceberem da contradição, continuam a consumir alegremente todo o tipo de lixo tecnológico que lhes impingem, a viajar compulsivamente por todos os cantos do mundo, e a fazer compras on-line, engordando as multinacionais e destruindo o comércio local.
Toda a economia que tenha por fim último o seu próprio crescimento é necessariamente lesiva da sobrevivência da espécie humana e da vida em geral. Uma economia poderá crescer parcialmente até a um dado limite, mas a procura de um crescimento geral e ilimitado redunda inevitavelmente na depredação maciça dos recursos planetários.
Aumentar constantemente as necessidades de consumo é, não só, promover uma antítese do que deve ser uma vida virtuosa e sábia, mas também destruir a paz e a liberdade, pois que, sempre que contraímos uma nova necessidade estamos a aumentar, no acto, a nossa dependência de forças que nos são estranhas e sobre as quais não temos qualquer controlo - a crescente dependência das novas tecnologias, tem incentivado um consumismo desbragado, a automatização desumana do trabalho, a deslocalização selvagem e o gigantismo económico.
Uma vida virtuosa e sábia exigiria uma reorientação da tecnologia para “o que nos é próximo”, para o local, fomentando a descentralização, promovendo o corporativismo e facilitando um retorno à vida rural e às tradições.
Chesterton, exasperava-se quando alguém se ufanava de, graças aos velozes comboios que cruzavam a Inglaterra, poder ter acesso a maçãs de forma mais rápida e barata. Dizia, ele, que “o que, na verdade, é rápido e barato é um homem colher uma maçã da macieira do seu pomar e leva-la à boca”. Acrescentava, ainda, que um proprietário dum pequeno horto, tem certamente muito mais cuidado com a qualidade dos produtos que, ele e os seus, irão consumir do que as grandes empresas, para quem o universo só existe na medida em que possa servir para lhes proporcionar lucros.
As transacções mercantis em grande escala, geram poluição, contaminam o mar, a terra e o ar, destroem a vida e as tradições locais, arrasam as paisagens, despovoam regiões, convertem o mundo num imenso vazadouro de lixo e enlouquecem os homens ao mergulha-los numa lógica consumista.
Milhões e milhões de pessoas, por todo o planeta, agitam-se e deslocam-se incessantemente, num frenesim insano, à procura de mais riqueza, ou de mais distracções, fazendo crescer patologicamente as cidades e transformando o mundo num imenso festim hedónico.
Só o retorno a uma economia de pequena escala poderá fazer o homem desfrutar, com conta peso e medida, da Criação deixando de a destruir.
Só uma re-humanização das condições laborais que afaste os automatismos geradores de desemprego e aniquiladores da criatividade, poderá restabelecer a dignidade do trabalho como vocação e expressão da liberdade humana e - evitando a depredação por multinacionais gigantescas dos recursos locais – evitar as migrações em massa de povos inteiros.
Mas, pelo contrário, as novas condições de trabalho, advindas dos avanços tecnológicos, tendem a asfixiar a alma, criando uma necessidade de alienação e de escapismo proporcionados pelo consumismo.
E, o consumismo é sempre sinal de profunda degradação moral.
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