UM FUTURO DE BOSSALIDADE
Um
topos, “lugar-comum”, ou “chavão” é um trecho da memória colectiva onde
estão guardados certos argumentos estereotipados, cuja credibilidade é garantida
por uma mera associação de ideias, independentemente de qualquer exame do
assunto em apreço. Muitos lugares-comuns formam-se espontaneamente, pela
experiência social acumulada, mas outros são criados propositadamente pela
repetição de slogans concebidos
com determinados fins, e tornam-se lugares-comuns quando, esquecida a
sua origem artificial, se impregnam na mentalidade geral como verdades auto-evidentes.
Eles,
não são um simples amontoado, mas organizam-se num sistema, que pode ser
analisado e descrito mais ou menos como se faz com um complexo em psicanálise,
e cujo conhecimento permite prever, com razoável margem de segurança, as reacções
do público a determinadas ideias ou palavras.
Contando
com essas respostas padronizadas, qualquer um pode fazer aceitar ou rejeitar determinada
opinião sem o mínimo exame da mesma, porque a simples menção de certas palavras-chave
produz, na audiência, uma catalogação mental automática e um julgamento pronto
como fast food. A impressão de certeza inabalável do cidadão é então
inversamente proporcional ao conhecimento que tem do assunto, e o sentimento de
estar a opinar com plena liberdade é directamente proporcional à quota de obediente
automatismo com que o idiota repete o que lhe foi ditado.
É
claro que, para se chegar a este estado, é preciso começar o adestramento bem
cedo. Daí a insistência de António
Gramsci e da Escola de Frankfurt
na importância da escola primária. Também é preciso que algumas crenças sejam
inoculadas sem palavras, através de imagens ou gestos, de modo que não possam
ser examinadas pela inteligência reflexiva sem um penoso esforço de
concentração que poucas pessoas se dispõem a fazer.
Assim
é possível consolidar reacções tão padronizadas e repetitivas que, em certas circunstâncias,
um simples esgar ou um sorriso irónico funciona como se fosse a mais comprovada
demonstração matemática.
Se
as pessoas soubessem a que ponto se humilham e se rebaixam no instante mesmo em
que orgulhosamente crêem exercer a sua liberdade, não atenderiam com tanta
presteza ao convite de dizer o que pensam - ou o que pensam pensar.
É por amor a esse tipo de liberdade barata que,
sobretudo os jovens, desde que os lisonjeiem, se têm disposto a seguir as
causas mais absurdas e criminosas. Para desgraçar de vez um país, nem é preciso
instaurar um regime socialista. Basta fazer o que as democracias ocidentais já
fazem: reduzir milhões de jovens a uma apatetada boçalidade, a um analfabetismo
funcional no qual as palavras que leem se repercutem nos seus cérebros como
simples estimulações pavlovianas, despertando reacções emocionais à sua
simples audição, de modo directo, sem passar por qualquer referência à
realidade externa.
Desde
os anos sessenta do século passado[1],
uma verdadeira tropa de choque acantonou-se nos Ministérios da Educação, nas
escolas e nas universidades, e programou esses meninos para ler e raciocinar
como cães que salivam ou rosnam perante meros signos, pela repercussão imediata
de sons na sua memória afectiva, sem a menor capacidade ou interesse de saber
se correspondem a algo de real.
Um
deles ouve, por exemplo, a palavra “virtude”. Pouco importa o contexto. Instantaneamente
se produz na sua rede neuronal uma cadeia associativa padronizada: virtude-moral-catolicismo-conservadorismo-repressão-ditadura-racismo-genocídio.
E, logo começa a berrar: Intolerância! Fascismo! Mata! Esfola! Al paredón!
De
maneira oposta e complementar, se ouve a palavra “social”, começa a salivar de
gozo, arrastado pelo atractivo mágico das imagens: social-socialismo-justiça-igualdade-liberdade-sexo-e-cocaína-de-graça-Uáu!
Não
é exagero. É exactamente assim que, por blocos e engramas consolidados, uma
juventude estupidificada lê e pensa. Essa gente nem precisa do socialismo: já
vive nele, já se deixou reduzir à escravidão mental mais abjecta, já reage com
horror e asco ante a mais leve tentativa de a reconduzirem à razão, repelindo-a
como a uma ameaça de estupro.
Tal
é a obra educacional daqueles que, há sessenta anos atrás, posavam como se
fossem a encarnação das luzes ante o obscurantismo cujo monopólio atribuíam ao passado.
Nem as seitas pseudoreligiosas, armadas de técnicas de programação neurolinguística
e de lavagem cerebral, conseguiram semelhante resultado. Foi obra de educadores
pagos pelos Ministérios de Educação, imbuídos da convicção sublime de serem
libertadores e civilizadores.
O mal que este processo tem feito ao mundo é já
irreparável. Mesmo que todos esses adestradores de papagaios fossem demitidos
hoje mesmo, e se inaugurasse um programa de resgate das inteligências, passar-se-iam
trinta ou quarenta anos antes que uma média razoável de compreensão verbal
pudesse ser restaurada. Duas gerações ficariam pelo caminho, intelectualmente
inutilizadas para todo o sempre.
É
em parte por estar conscientes disso que as classes dirigentes são as primeiras
a advogar a liberalização das drogas e
de todas as perversões sexuais. Sabem que o lindo Estado Assistencial com que sonham terá de deixar na ociosidade uma
boa parcela da população, danificada, incapacitada, emburrecida. Para que não
interfira com o sistema, será preciso tirá-la do espaço social, removê-la para
mundos lúdicos e fictícios onde o preço do ingresso é o dum preservativo ou de
um grama de pó.
Na
sociedade futura, a recompensa daqueles que consentiram em ser idiotizados já
está garantida: ganzas de graça, sob
os auspícios do governo e sexo à
fartazana, sob protecção oficial, numa sociedade tão indiferente como se
estivesse perante uma orgia de cães à volta de um poste.
Mas
não é precisamente isso que desejam? Não é essa a essência do ideal moderno que
anima os seus corações?
A partir dum texto de Olavo de Carvalho
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