"O capitalismo, uma vez derrotado o seu último inimigo ideológico - o comunismo – chegou a um ponto crucial; o individualismo, o mercado, a ideologia dos “direitos humanos”, a democracia e os “valores ocidentais” tinham vencido à escala global. Parecia que a agenda estava completa – já ninguém se lhe opunha com algo de sério ou sistémico; a História tinha chegado ao fim.
Foi neste
momento que o liberalismo entrou na sua última fase: uma vez derrotados os
seus inimigos externos, os liberais, num esforço de aprofundamento da sua
ideologia, conseguiram descobrir mais duas formas de identidade colectiva de que o indivíduo devia ser libertado.
Primeiro,
descobriram o “género”; porque, no fim das contas, o “género” também é algo
colectivo susceptível de restringir a liberdade individual. Logo, pensaram eles,
a próxima luta consiste em destruir o “género” como algo objectivo, essencial e
insubstituível.
Daí,
nasceram as políticas de “género”, isto é, a transformação da categoria
“género” em algo “opcional” e dependente da escolha individual.
Aqui, mais uma vez, deparamo-nos com puro nominalismo : uma pessoa é uma pessoa enquanto indivíduo, mas o “género” pode ser escolhido arbitrariamente - como, já antes eram, a religião, a profissão, a nação, o tipo de família e o modo de vida.
Esta
tornou-se a principal agenda liberal depois dos anos 90 e da derrota da União
Soviética.
Claro que continuavam a existir oponentes às
políticas de “género” – países que ainda conservavam restos da sociedade
tradicional, valores familiares, de Religião etc., assim como alguns círculos conservadores
no próprio ocidente.
Combater
esses conservadores e “homofóbicos”, isto é, os defensores da visão tradicional
dos sexos, passou a ser o novo objectivo dos liberais, a quem se juntaram
muitos esquerdistas substituindo, assim, os seus anteriores objectivos anti
capitalistas pela defesa de políticas de género e de protecção dos imigrantes.
Mas, uma vez
institucionalizada a legislação de “género” e a promoção continuada das
migrações em massa - que, no fundo, mais não pretende que atomizar as
populações ocidentais - tornou-se óbvio que os liberais tinham pela frente ainda
mais um passo – abolir os humanos.
Afinal, a
humanidade também é uma "entidade colectiva", ou seja, deve ser
superada, abolida, destruída porque é isso que o princípio nominalista exige.
Segundo este, uma “pessoa” é apenas uma designação sem qualquer significado,
uma classificação arbitrária e como tal susceptível de ser constantemente posta
em causa. Só o indivíduo existe –, religioso ou ateu, macho ou fêmea, humano ou
não, isso dependerá da sua escolha pessoal.
Sendo assim,
o último passo dos liberais - que eles, mesmo sem disso se darem conta, há
séculos perseguem - é substituir os seres humanos, mesmo que parcialmente, por
cyborgs, redes de inteligência artificial e artefactos resultantes da
engenharia genética.
Ao género
opcional, seguiu-se logicamente o ser humano opcional.
Esta agenda
já prefigurada, no domínio da filosofia, pelo pós-humanismo, pós-modernismo e
pelo realismo especulativo, está a tomar contornos cada vez mais realista, em
termos de realização tecnológica. Os futuristas e os que propõem um
aceleramento do processo histórico (aceleracionistas) olham com confiança para
um futuro próximo onde a inteligência artificial será comparável, em parâmetros
básicos, à dos seres humanos.
A esse momento chamam Singularidade
(Singularity) cujo advento está previsto para os próximos dez a vinte anos.
E, é aqui
que a Great Reset e o Built Back Better entram em acção. Na
verdade, não há, nela, nada de novo – trata-se apenas da continuação lógica do
vector principal do progresso da civilização europeia ocidental tal como sempre
foi entendido pela ideologia liberal e pela filosofia nominalista. A diferença
é que agora se pretende libertar os indivíduos das últimas formas de identidade
colectiva sobreviventes, procedendo à abolição do “género” e avançando para um
paradigma pós-humanista.
Torna-se
assim clara a nossa situação actual, dentro do processo histórico em curso e o
real significado da Great Reset.
Estamos no
começo da batalha final em defesa da
humanidade.
Os globalistas, na sua luta pelo nominalismo,
liberalismo e libertação individual, vêem-se, a si próprios, como verdadeiros
“guerreiros da luz” trazendo às massas, o progresso, a libertação de milhares
de anos de preconceitos e um mundo de novas possibilidades – desde as
maravilhas da engenharia genética até quiçá, à imortalidade física.
Todos que se
lhes opõem, são a seus olhos, “forças obscurantistas”; e, portanto, “inimigos
da sua "open society ”, os quais devem ser tratados com a severidade que
merecem - “se o inimigo não se render, deve ser destruído”.
O “inimigo”
são todos que se opõem ao liberalismo, globalismo, individualismo, nominalismo
em todas as suas manifestações.
Esta é a "ética"
do liberalismo.
Não se trata
de nada de pessoal.
Todos têm o direito a ser liberais; mas
ninguém tem direito a ser mais nada.
Alexander
Dugin
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