Como
corromper uma civilização
É fácil. Basta
levar as pessoas a praticarem actos que elas em consciência sabem serem maus – e,
depois, garantir que elas não se arrependem.
(Fazê-las
pecar não é difícil, todos o fazem de uma maneira ou de outra, mais tarde ou
mais cedo; o difícil é impedir que se arrependam. Porque faz parte da natureza
humana arrepender-se dos maus actos praticados. O que implica que vamos ter de combater aquilo que é natural.)
E, é tudo!
Uma
vez este simples sistema instalado, ele alimentar-se-á a si próprio.
Mas, para
atingir este estado de coisas, é crucial conseguir que as pessoas passem a ver
o arrependimento como algo sem sentido, hipócrita, repressivo, anti
igualitário, racista, sexista - uma fraqueza nascida da falta de auto-estima.
Porque quem
se arrepende de um mal, está a reconhecer a existência desse mal e,
implicitamente, a acusar os que o praticam de estarem perpetrar um mal; ora
isso, não é admissível pois é o mesmo que estar a julgar os outros.
Deste modo,
toda a ética necessariamente se transforma e inverte: o único mal, passa a ser arrepender-se de praticar o mal...
O pecado
impenitente, uma vez assumido, torna-se um processo exponencial, porque, as
pessoas uma vez corrompidas – e não se arrependendo em ordem a arrepiarem
caminho - não têm porque parar; perdidas por um, perdidas por mil; às tantas
estão-se a gabar da sua condição e a encorajarem outros a fazer o mesmo.
E, porque não?
(O Diabo
segreda-lhes: “queres pecar? Força, vai em frente - faz o que te apetece, se isso
te faz feliz!”)
(“Arrependimento?
Qual arrependimento! Tem, mas é, orgulho nas tuas opções; elas são tuas – elas definem-te;
os que acreditam no arrependimento, esses sim, é que são os verdadeiros
pecadores!”- insiste o “Chifrudo”.)
O que é o pecado? Pecar é desviar o rosto de
Deus; é afastar-se de Deus. O arrependimento é voltar para Deus. Então, quando
não há arrependimento, fica-se preso no nosso pequenino universo privado,
fechado para o infinito - de costas voltadas para Deus.
Uma vez pecador impenitente (e pode ser apenas uma vez!), pecador para sempre: e o Tentador pode então deixar-nos seguir o nosso caminho à vontade – e destruirmo-nos a nós próprios e aos outros, pelo exemplo - e pode dedicar-se a outros que ainda não estejam corrompidos.
E, se os velhos
pecados de sempre, por força da habituação, já não chegarem para nos fazer cair
em tentação, não há problema, as sempre renovadas modas fornecer-nos-ão uma
sempre renovada plêiade de novidades capazes de tentarem a mais santa das almas.
É tão fácil!
Antigamente,
as pessoas, uma vez, arrependidas e lavadas dos seus pecados, podiam voltar
para o lado do Bem e começar tudo de novo!
O tentador
nunca estava seguro da sua presa até ao fim.
Mas agora, basta
cometer-se um mísero pecado não-arrependido e o tentador tem-nos seguros do seu
lado!
E, não só,
as pessoas não se podem arrepender, como já não há quase Padres para lhes
perdoar os pecados – logo só resta a opção de negar histericamente a existência
do pecado.
Assim, a
engrenagem da corrupção cresce exponencialmente: começa com meia-dúzia de almas mais
orgulhosas; mas, cada pecador impenitente, permanece para sempre nas fileiras dos
condenados e, pelo exemplo ou pela argumentação, arregimenta mais e mais
companheiros "para a desgraça".
Rapidamente
se forma uma ampla maioria democrática que quer e defende activamente o mal.
(Se o aborto não “passar à primeira”, é só uma
questão de tempo até se formar uma
maioria solidamente ancorada do lado do mal.)
O mal torna-se,
então, obrigatório (maioria dixit)
É tão
simples – e, tão eficaz...
A partir de textos de C. S. Lewis
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