Em suma, esta convicção humana da existência de um laço sexual, entre o homem e a mulher que, normalmente, não deve ser quebrado, assenta no princípio de que, em todas as coisas que valem a pena, incluindo os prazeres, há um momento de dor e de tédio a que é necessário resistir, para que o prazer possa reviver e perdurar. A alegria da batalha vem depois do primeiro medo de morrer; a alegria de ler Virgílio vem depois do enfado inicial; a radiância do banhista ocorre depois do primeiro choque gelado do banho no mar; e o êxito no casamento ocorre depois do fracasso da lua-de-mel. Os votos matrimoniais, assim como as leis e contratos, são outras tantas maneiras de sobreviver a este ponto de viragem, a este instante de potencial rendição.
Em todas as coisas que vale a pena fazer neste mundo, há um momento em que ninguém as faria a não ser por razões de necessidade ou de honra. É nessa altura que a instituição toma conta do homem e o ajuda a assentar o pé em terra firme e a seguir em frente.
Este facto sólido basta amplamente para justificar o sentimento humano de que o casamento é uma coisa fixada, cuja dissolução é um erro quando não uma ignomínia.
O elemento essencial não é tanto a duração como a segurança.
Aqui a coacção é uma espécie de estímulo; e a anarquia (ou aquilo a que chamam liberdade) é essencialmente opressiva, porque é essencialmente desencorajante.
Se os americanos se podem divorciar por "incompatibilidade de carácter", não percebo porque não estão todos divorciados. Tenho conhecido muitos casamentos felizes mas nenhum casamento compatível. O objectivo do casamento é precisamente combater e sobreviver ao instante em que a incompatibilidade se torna inquestionável. Porque um homem e uma mulher, enquanto tais, são incompatíveis.
G. K. Cherterton, What's Wrong With The World
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