É altura de lembrar que se diz que «Satã é o arremedo de Deus». No fundo, isto equivale a dizer que o Diabo tenta imitar Deus, à sua maneira, alterando e falsificando tudo, segundo os seus fins: assim, fará de maneira que a desordem tome a aparência de uma falsa ordem, dissimulará a negação de todos os princípios afirmando falsos princípios, e  por aí a diante.

 Naturalmente, tudo isto não poderá ser, na realidade, senão um simulacro e mesmo uma caricatura, mas habilmente apresentada para que a imensa maioria dos homens caia no logro.

Quando se diz imitação, diz-se, por isso mesmo, paródia, porque são termos quase sinónimos. Há invariavelmente, em todas as coisas deste género, um elemento grotesco que pode ser mais ou menos aparente; e, é por este aspecto de farsa que a mentira, por mais hábil que seja, não pode deixar de se trair; e, claro que também isso é uma «marca» de origem, inseparável da própria imitação, e que deve normalmente permitir reconhecê-la.

Se quiséssemos falar estritamente segundo a verdade dos factos, deveríamos utilizar sempre a palavra «pseudo» junto da designação de todos os produtos específicos do mundo ocidental moderno: pseudo princípios, pseudo civilização,  pseudo valores, pseudo religião.

René Guénon

                                   Para um “Grande Recomeço” no Céu

 

Como ateu, feminista, antirracista, ambientalista e sexualmente inclusivo, eu, pessoalmente, não quero ir para o Céu.

Mas tenho notado que os da minha laia estão largamente sub-representados entre as almas ressuscitadas - de facto, tanto quanto sei, nenhum de nós, jamais alcançou o Céu!

Trata-se duma prova cabal de que os responsáveis do Céu estão imbuídos duma intolerância e dum preconceito extremos em relação aos pecadores não arrependidos - convenhamos que, historicamente, o Céu, nunca foi um local muito diversitário.

Mas, se olharmos duma perspectiva politicamente correcta, veremos que aqueles que sempre foram considerados maus, afinal são bem melhores dos que, até aqui, eram vistos como “Justos”; na verdade os primeiros, são geralmente pessoas bem mais agradáveis, gentis, sensíveis, preocupadas com causas sociais e ambientais, numa palavra, mais "alegres" e “fofinhas” do que os cristãos - como se pode ver pela flagrante violência e injustiça configuradas pela exclusão dos réprobos do acesso ao Céu.

Claramente, este Apartheid celeste, tem de acabar.

 Afinal, aqueles que rejeitam Jesus Cristo, também são seres humanos e têm o direito inalienável e constitucionalmente consagrado, a se deslocarem aonde bem lhes apetecer e de escolherem ser o que bem entenderem.

Poder-se-á argumentar que, para quem quiser ir para o Céu, bastar-lhe-á arrepender-se e confessar os seus pecados; mas, … e, as pessoas que, como eu, não querem de todo arrepender-se; ou que simplesmente odeiam Cristo; ou que acham a Sua doutrina desactualizada; ou que aceitam apenas certas partes dela e não estão especialmente interessados em ir para o Céu? … Esse é que é o problema!

Trata-se duma intolerância sistémica que não pode ser de modo algum tolerada em pleno século XXI; os Justos criaram no Céu um ambiente hostil e tóxico para com os precitos – com o propósito confesso de os excluir.

Esta discriminação deve, portanto, ser aniquilada; e, no Céu, tem de ser criado um ambiente inclusivo e acolhedor em relação aos condenados, pois só assim eles poderão vir a estar, aí, adequadamente representados.

Mas, não basta passar a admitir no Céu aqueles que rejeitam Cristo; esta injusta exclusão só terminará quando eles, aí, deixarem de ser apenas uma pequena minoria.

Assim sendo, é preciso parar imediatamente de “julgar” os pecadores; e, o ambiente do Céu, deverá ser expurgado de qualquer referência a “Deus”, a “Cristo”, à “Criação divina”, etc. que possa, por eles, ser apercebida como ofensiva,

(Depois de séculos de desigualdade e discriminação, até a mais leve referência à Divindade pode ser apercebida, pelos réprobos, como uma micro-agressão dolorosa - portanto, o processo de requalificação do Céu terá de ser detalhado e abrangente.)

O objectivo é que, tanto o pecado como os pecadores, passem a ser encarados de um modo positivo - como escolhas válidas de estilo de vida; e, para isso, séculos de propaganda e obscurantismo anti-pecado terão de ser apagados.

O pecado deverá ser, pelo contrário, promovido, elogiado, subsidiado e recompensado, no intuito de se implementar uma nova e mais elevada ética segundo a qual os pecadores não terão de se envergonhar da sua condição e pelo contrário, deverão antes orgulhar-se dos seus pecados – espontânea e naturalmente.

Sem isso, o nosso trabalho estaria incompleto.

No curto prazo, isso significa que as demarches de admissão ao Céu terão de ser supervisionadas segundo as melhores práticas de gestão e governança, com o fim de agilizar os respectivos procedimentos e melhorar, através da promoção duma mobilidade mais sustentável, as acessibilidades ao Céu.

Felizmente, o Inferno está em condições de oferecer os serviços de outsourcing e consultadoria necessários para persecução de semelhantes objectivos, criando no Céu um  departamento de Recursos Humanos  que promova uma supervisão equitativa de todas as actividades celestes.

No curto prazo, para combater as referidas assimetrias sistémicas, será, pois, necessária uma fase inicial de nivelamento forçado, de Acção Afirmativa, criando-se quotas de admissão para anti-cristãos - mesmo ao mais alto nível - e implementando um sistema de descriminação positiva que favoreça o pecado.

Por outras, palavras, o Céu será  administrado pelo Inferno e Satanás será o seu CEO.

Claro que, por uma quetão de tolerância, inclusividade e diversidade os Justos continuarão a ser muitíssimo bem-vindos no “Céu Recomeçado”... desde que (como todos os outros, indiscriminadamente) estejam dispostos a aderir ao Politicamente Correcto, jurem opor-se a Deus, se comprometam a mal-dizer Cristo e demonstrem vontade de trabalhar activa e entusiasticamente para destruir para sempre esse sistema de exclusão, desigualdade e discriminação, que dá pelo nome de “Criação Divina”.

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