Consequências
mais que previsíveis
Como não cabe ao analista político dizer às
pessoas o que devem ou não fazer nas suas vidas privadas, nunca escrevi uma
linha a favor ou contra as práticas homossexuais ou qualquer outra conduta
erótica existente ou por inventar.
Escrevi, sim, contra o movimento gay como fórmula ideológica e projecto de poder. Isso
bastou para que fosse rotulado de “homofóbico”. Na verdade, hoje, a lista de actitudes
humanas puníveis como sendo “homofóbicas” é bem variada e pode levar qualquer um à
cadeia por delito de opinião. Ela abrange:
1) Citações da Bíblia ou de livros sagrados de
qualquer religião que façam objeções morais ao homossexualismo.
2) Opiniões médicas, psiquiátricas e
psicoterapêuticas que ponham em dúvida, de maneira mais ou menos explícita, a
sanidade da conduta homossexual. Isso inclui obras clássicas de Freud, Adler,
Szondi, Frankl e Jung, entre outros.
3) Manifestações pessoais de repulsa física ante o
homossexualismo, emoção que é tão espontânea e irreprimível como o próprio
desejo homossexual. (Inversa e complementarmente, a repulsa do homossexual pela
sexualidade hetero, não será apenas considerada lícita mas estará sob a
proteção da lei, condenando-se como “homofóbica” toda objeção que se lhe
apresente ou, mais ainda, toda tentativa de a reprimi-la. Ou seja: o direito à
repulsa sexual será monopólio exclusivo da comunidade gay .)
4) Expressões verbais populares, de uso espontâneo e irreprimível, consideradas depreciativas e anti-homossexuais.
5) Piadas e gracejos que mostrem a conduta
homossexual sob um ângulo risível.
6) Opiniões políticas contrárias aos interesses do
movimento gay, que já são e serão cada vez mais necessariamente interpretadas
como adversas aos direitos da comunidade homossexual.
7) Análises sociológicas, históricas ou
estatísticas que ponham em evidência qualquer conduta negativa da comunidade
gay. Essas análises já estão praticamente excluídas do universo cultural
decente. A lei vai proibí-las por completo.
8) Qualquer resistência que um pai ou mãe de
família oponha à doutrinação homossexual de seus filhos nas escolas ou à
participação deles em grupos e entidades homossexuais.
9) Qualquer tentativa de impedir ou reprimir, por
actos ou palavras, as expressões públicas de erotismo gay, discretas ou
ostensivas, moderadas ou extremas, mesmo diante de crianças ou em lugares
consagrados ao culto religioso.
10) Qualquer observação casual, feita no
escritório, na rua ou mesmo em casa (se houver testemunhas), que possa ser
considerada desairosa aos homossexuais ou ao movimento gay. Isso inclui a
simples expressão de satisfação que um cidadão possa ter por ser heterossexual.
As consequências mais que previsíveis da aprovação
destas leis são tão portentosas e ilimitadas que a maioria dos cidadãos tem
dificuldade em as conceber. Mas essas consequências podem ser resumidas da
seguinte maneira: com um só golpe de caneta, um grupo militante
organizadíssimo, fartamente subsidiado do exterior e associado aos partidos de
esquerda, conquistou
uma quantidade de poder policial discricionário tão vasta e ameaçadora como a que se poderia obter mediante um golpe de Estado ou uma revolução. Dotado do
aparato jurídico necessário para aterrorizar toda a oposição, reduzi-la a um
silêncio humilhante, marginalizá-la e torná-la socialmente inoperante, esse
grupo será um poderoso instrumento de controle social e político a juntar à
política fiscal, à ocupação do espaço público por “movimentos sociais” e ONGS e ao domínio hegemónico sobre as instituições de cultura e ensino.
Na verdade, o movimento gay nem precisava desta
lei para fazer sentir o peso das suas ambições policiais sobre os que ousarem contestar
sua pretensa autoridade. O assédio judicial, os esforços dos gayzistas e
simpatizantes para destruir a carreira, a família e o modo de vida dos que se
lhes opõem mostram que não faltam armas à elite gay para perseguir, amedrontar
e marginalizar os seus adversários, quanto mais para defender-se dos perigos
imaginários que a ameaçam.
Que tão avassaladora ascensão de totalitarismo
seja necessária para proteger os pobrezinhos homossexuais contra piadas,
gracejos e citações da Bíblia é um argumento tão risível que somente um idiota
completo ou um mentiroso desavergonhado se atreverá a usá-lo.
Pior ainda é a alegação de violência contra os homossexuais.
Já expliquei o que o simples uso do termo “homofóbico” contra os adversários do
movimento gay tem de maquiavélico, de perverso, de criminoso. Mas ao delito
semântico acrescenta-se ainda a perversão aritmética. Por exemplo, entre os 50
mil brasileiros assassinados anualmente, o movimento gay não tem conseguido
apontar mais de dez ou doze indivíduos que o teriam sido — se é que o foram —
por motivos “homofóbicos”. Pretender que a fúria anti-homossexual seja um facto
social alarmante e epidémico, necessitado de legislação especial e drástica, é
nada mais que uma farsa cínica,
O contraste entre o discurso e realidade é patente: o movimento gay cresce em arrogância, virulência e pretensões dictatoriais à medida que a sociedade se torna mais tolerante, simpática e subserviente às exigências da comunidade homossexual.
Quem diria que a inversão
sexual viesse a par com inversão mental?
Basta observar esse fenómeno para perceber imediatamente que a alegação característica do discurso gay, de proteger uma comunidade oprimida, é apenas uma camuflagem, um véu ideológico estendido por cima de objetivos bem diferentes, incomparavelmente mais ambiciosos.
Uma pista para a compreensão efetiva do fenómeno
são os grupos de intelectuais, políticos e de artistas homossexuais, tremendamente
poderosos e influentes, que marcaram a história política e cultural do século
XX com o culto da supremacia gay. Três deles são particularmente importantes: o
círculo de Stefan George na Alemanha, o de André Gide em França e, na
Inglaterra, a confraria dos “Apóstolos” de Cambridge onde pontificaram, entre
outros, Erasmus Darwin (irmão de Charles Darwin), Maynard Keines, E. M. Foster, Ludwig Wittgenstein e Bertrand
Russel. Em cada um dos três casos, a militância pública — sempre do lado
errado, nazista ou comunista — encobria uma dimensão mais profunda e mais
sinistra, de seita gnóstica empenhada em subjugar a humanidade normal a uma
elite homossexual imbuída de um senso de superioridade quase divina.
O actual movimento gay é a materialização pujante
e assustadora desse projecto de revolução civilizacional.
Por absoluta incompreensão deste ponto,
os adversários do movimento gay , quase sem excepção, têm cometido dois erros fatais:
Primeiro: combatem, juntamente com o movimento gay,
a homossexualidade em si. Politicamente, isso é uma loucura. O movimento gay
existe há algumas décadas e só em alguns lugares do planeta; o homossexualismo
existe por toda parte desde que o mundo é mundo. O primeiro pode ser derrotado;
o segundo não pode ser eliminado. Condicionar a vitória sobre o movimento gay à
erradicação do homossexualismo é adiar a vitória para o dia do Juízo Final.
Segundo: procurando atenuar a má impressão de
autoritarismo dogmático que essa atitude inevitavelmente suscita, apressam-se a
declarar que respeitam os direitos dos gay s e que desejam apenas preservar,
lado a lado com eles, os direitos da consciência religiosa. Com isso, estão a igualar
o inigualável, a negociar o inegociável, a equiparar a liberdade de consciência a
uma “opção sexual”, à preferência por determinado tipo de prazer erótico.
Será preciso lembrar que, privado de satisfação
erótica, o ser humano sofre alguma incomodidade, mas, desprovido da liberdade
de consciência, perde o último resquício de dignidade, o sentido da vida e a
razão de existir?
Em suma: são intransigentes onde deveriam ceder,
cedem onde deveriam ser intransigentes, inflexíveis e até intolerantes.
Não há nada de mais em aceitar o homossexualismo
como uma realidade social que não pode ser erradicada e que, se deve ser
combatida, é com todos os cuidados necessários para não ferir e humilhar
pessoas. Em contrapartida, tratar como igualmente nobres e respeitáveis o mais
elevado princípio da moralidade e o simples direito legal de fazer determinadas
coisas na cama é uma inversão hedionda da hierarquia lógica e moral, é uma
desobediência acintosa ao Primeiro Mandamento, cuja implicação mais óbvia é o
dever incondicional de colocar as primeiras coisas primeiro.
Olavo de Carvalho
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