"A doutrina da Igreja evolui. Voltar atrás é inútil "
Papa Francisco, a jesuítas portugueses.


O MITO MODERNO DO PROGRESSO OU A SUBSTITUIÇÃO DO CRITÉRIO DE BONDADE E VERACIDADE PELO DE ACTUALIDADE


  “A minha atitude perante aqueles que defendem o mito do progresso, passou da irritação ao tédio; há muito que deixei de discutir com pessoas que preferem a quinta-feira à quarta-feira, por ser quinta-feira. Defender algo porque é actual é absurdo porque ser actual não significa absolutamente nada. Quem o faz, na realidade o que pretende dizer é, claramente, que a maioria não concorda ainda com a minoria que ele representa. Dizer que “o Toninho é bom rapaz” é uma declaração filosófica digna de Platão, Aristóteles e S. Tomás. Dizer que “o Toninho é um rapaz do seu tempo” é uma metáfora grosseira, que tem por base um cronómetro.”

G.K. Chesterton


"Compreendi então que aquilo que um homem deve rejeitar, como superstição, é a moda do momento, que vai inevitavelmente sair de moda."

G.K. Chesterton


O grande benefício que podemos obter da leitura dos autores clássicos é o de chegarmos à conclusão de que nós, os modernos, estamos errados.

(C.F. Martin, in Thomas Aquinas: God and Explanations.)


"Tanto o comunismo como a democracia liberal pretendem libertar-se do passado e abraçar o ideal do progresso; tudo que sucede é avaliado em função da sua relação com o novo ou o velho. Se é novo é sempre melhor; se é velho é sempre suspeito. As expressões de condenação apontam sempre para o antigo: “supersticioso”, “medieval”, “atrasado” e “anacrónico”; pelo contrario, o maior elogio é ser-se “moderno”. Tudo deve ser “moderno”: o pensamento, a família, o ensino, a literatura, a filosofia, a religião…. Se uma coisa, uma qualidade, uma actitude ou uma ideia não é moderna, deve ser modernizada ou, então, deve ser atirada para o caixote do lixo da história (expressão com igual relevância em ambas as ideologias).

Tendo rejeitado todas as obrigações e compromissos do passado, tanto os comunistas como o democratas-liberais,  perdem-lhes o respeito e  esquecem-nos rapidamente. Ambos desejam que o passado seja totalmente erradicado, ou pelo menos que seja tornado impotente, relativizado e escarnecido.

O comunismo, sendo um sistema que pretende apagar ou reescrever toda a história pregressa e começar tudo de novo, sempre foi, na essência e na prática adverso à memória. Os que combatiam os regimes comunistas  combatiam também o esquecimento, porque tinham a noção que a perda da memória fortalecia o sistema tornando as pessoas indefesas e maleáveis. Na democracia-liberal a memória também é encarada como  um dos seus principais inimigos pois dificulta o esforço  em direcção à modernidade, apegando as pessoas ao passado.

Na cruzada comum contra a memória, os democratas-liberais têm sido, no entanto, muito mais eficazes que os seus congéneres comunistas."

 The Demon in Democraty – Totalitarian Temptations in Free Societes, de Ryszard Legutko - Encounter Books, New YorK. London, pags., 5-9. 


 “Se rejeitarmos a ideia de progresso, inerente à modernidade, então, tudo o que é antigo ganha, para nós, valor e credibilidade, em virtude do simples facto de ser antigo. “Antigo” significa bom; e, quanto mais antigo, melhor afinala mais antiga de todas as criações, foi o Paraíso…”

Alexander Dugin, The Fourth Political Theory

"Simultaneamente o Estado moderno  pretende impor, na esteira do pensamento neomarxista de Gramsci e da Escola de Frankfurt - para os quais o inimigo a abater não é apenas o capitalismo mas toda a civilização judaico-cristã -, uma nova disposição mental, que predisponha os homens a considerar, implicitamente, todo o pensamento antigo, obsoleto e mera expressão subjectiva de um tempo que passou, subvertendo, assim, todos os critérios de conhecimento e instaurando no seu lugar um historicismo absoluto, no qual a função da inteligência e da cultura já não será captar a verdade objectiva, mas apenas "expressar" a convicção colectiva do momento, colocada fora e acima da distinção entre verdadeiro e falso.

Essa convicção, não sendo objectivamente válida, mas apenas expressão dos novos tempos, já não será passível de confronto com as ideias antigas para dirimir quais as correctas e quais as erradas.

O critério de veracidade será substituído pelo de actualidade e como todas as épocas são actuais para si mesmas, cada uma constituirá uma unidade fechada, cujas ideias apenas serão válidas subjectivamente para si próprias.

Aristóteles e Cristo teriam ideias do seu tempo e nós, as do nosso tempo, não sendo comparáveis porque, cada qual, está encerrado na sua própria época. Gerar-se-á assim na esfera das ideias, uma espécie de revolução permanente de todas as categorias de pensamento sucedendo-se numa aceleração vertiginosa do devir histórico.

Uma teoria, por exemplo, não deverá ser aceite por ser verdadeira, nem rejeitada por ser falsa, mas dela só se exigirá uma única e decisiva coisa: que seja "expressiva" do seu momento histórico.

 A dimensão tempo será assim absolutizada num mundo onde estará ausente qualquer noção de permanência; a mente humana tornar-se-á incapaz de captar tudo o que, para além da vida vulgar, aponte para o universal. O empírico, o imediato, a preocupação prática[1], tornar-se-ão o limite máximo da visão humana, num mundo pequeno e claustrofóbico.

 Desaparecendo o sentido da eternidade e da universalidade desaparecerá, o sentido da verdade e a capacidade humana de distinguir o bem do mal, substituída por um sentimento colectivo de adequação ao “nosso tempo”.

A capacidade humana de discriminar entre o verdadeiro e o falso de distinguir o real e do ilusório – desenvolvida pela filosofia grega e pelo cristianismo -  passará a ser tida por preconceituosa, passando a combater-se por todos os meios a autoconsciência reflexiva e crítica pela qual o ser humano é capaz de se sobrepor às ilusões colectivas e julgar a sua  época.

 Fechado na prisão do seu momento histórico, o indivíduo não será capaz de ver para além de si próprio, de exercer a sua inteligência autónoma, de ter razão contra a opinião maioritária, os ventos da história ou as ilusões decretadas pelo poder.

Com a depreciação da consciência individual, virá, necessariamente, a negação da evidência intuitiva[2] como base para julgar a verdade. Daí a necessidade da criação de um novo critério de determinação da verdade que passará a ser aquele que a elite detentora do sentido da história determinar.

E, a história, para os revolucionários vai no sentido dos amanhãs que cantam, da sociedade do bem-estar e da igualdade universais, do paraíso terrestre que, qual cenoura adiante do burro, desde a revolução francesa, tem mantido a humanidade esfalfada atrás do comboio da História, perseguindo uma miragem, numa aceleração contínua do devir, que nunca chegando a parte alguma, acaba por ser o único objectivo da vida, reduzida a um acumular de experiencias e momentos atomísticos, num eterno fluxo de impressões que acaba por varrer a inteligência da face da Terra, ao suprimir as únicas condições que possibilitam o seu exercício: a autonomia da inteligência individual e a fé na busca da verdade[3].

No limite, a elite vanguardista terá, apenas de guiar hordas de imbecis para quem a verdade é a mentira, e a mentira a verdade.

Ao cidadãozinho do universo global, amputado das suas raízes histórico-culturais e linguísticas, das suas referências religiosas e do seu senso de tradição nacional, só restam três eixos de orientação na vida: as suas pulsões corporais imediatas, a repetição acéfala de slogans e chavões do dia que paradoxalmente chamará de seu “pensamento crítico” e por fim o espírito da horda, do rebanho tangido por um big-brother omnipresente e invisível."

Olavo de Carvalho, in O Jardim das Aflições

[1] Pragmatismo, escola segundo a qual o conceito tradicional da verdade, como uma correspondência entre o conteúdo do pensamento e um estado de coisas, deve ser abandonado em proveito de uma noção utilitária e meramente operacional. Nela, a verdade não corresponde a um estado objectivo, mas ao que pode ter aplicação útil e eficaz numa dada situação.

[2] O conhecimento que é evidente por si mesmo (ou seja, o simples conhecimento do significado dos termos é suficiente para afirmar a certeza) é chamado de intuitivo.

[3] É, a esta luz, que devemos entender o mantra obcessivamente repetido pelos “católicos” modernistas segundo o qual Cristo seria um homem radicalmente do seu tempo, subentendendo-se, dessas palavras, que a Revelação deveria ser incessantemente adaptada aos novos tempos (ao espírito do tempo).


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