O MITO MODERNO DO PROGRESSO OU A SUBSTITUIÇÃO DO CRITÉRIO DE BONDADE E VERACIDADE PELO DE ACTUALIDADE
“A minha atitude perante aqueles que defendem o mito do progresso, passou da irritação ao tédio; há muito que deixei de discutir com pessoas que preferem a quinta-feira à quarta-feira, por ser quinta-feira. Defender algo porque é actual é absurdo porque ser actual não significa absolutamente nada. Quem o faz, na realidade o que pretende dizer é, claramente, que a maioria não concorda ainda com a minoria que ele representa. Dizer que “o Toninho é bom rapaz” é uma declaração filosófica digna de Platão, Aristóteles e S. Tomás. Dizer que “o Toninho é um rapaz do seu tempo” é uma metáfora grosseira, que tem por base um cronómetro.”
G.K. Chesterton
"Compreendi
então que aquilo que um homem deve rejeitar, como superstição, é a moda do
momento, que vai inevitavelmente sair de moda."
G.K. Chesterton
O grande benefício que podemos obter da leitura dos autores clássicos é o de chegarmos à conclusão de que nós, os modernos, estamos errados.
(C.F. Martin, in Thomas Aquinas: God and Explanations.)
"Tanto o comunismo como a democracia liberal pretendem libertar-se do passado e abraçar o ideal do progresso; tudo
que sucede é avaliado em função da sua relação com o novo ou o velho. Se é novo
é sempre melhor; se é velho é sempre suspeito. As expressões de condenação
apontam sempre para o antigo: “supersticioso”, “medieval”, “atrasado” e
“anacrónico”; pelo contrario, o maior elogio é ser-se “moderno”. Tudo deve ser
“moderno”: o pensamento, a família, o ensino, a literatura, a filosofia, a religião…. Se
uma coisa, uma qualidade, uma actitude ou uma ideia não é moderna, deve ser
modernizada ou, então, deve ser atirada para o caixote do lixo da história
(expressão com igual relevância em ambas as ideologias).
Tendo rejeitado todas as obrigações e compromissos do passado, tanto os comunistas como o democratas-liberais, perdem-lhes o respeito e esquecem-nos rapidamente. Ambos desejam que o passado seja totalmente erradicado, ou pelo menos que seja tornado impotente, relativizado e escarnecido.
O
comunismo, sendo um sistema que pretende apagar ou reescrever toda a história
pregressa e começar tudo de novo, sempre
foi, na essência e na prática adverso à memória.
Os que combatiam os regimes comunistas combatiam
também o esquecimento, porque tinham a noção que a perda da memória fortalecia
o sistema tornando as pessoas indefesas e maleáveis. Na democracia-liberal a
memória também é encarada como um dos
seus principais inimigos pois dificulta o esforço em direcção à modernidade, apegando as
pessoas ao passado.
Na
cruzada comum contra a memória, os democratas-liberais têm sido, no entanto,
muito mais eficazes que os seus congéneres comunistas."
The Demon in Democraty – Totalitarian Temptations in Free Societes, de Ryszard Legutko - Encounter Books, New YorK. London, pags., 5-9.
“Se rejeitarmos a ideia de progresso, inerente à modernidade, então, tudo o que é antigo ganha, para nós, valor e credibilidade, em virtude do simples facto de ser antigo. “Antigo” significa bom; e, quanto mais antigo, melhor - afinal, a mais antiga de todas as criações, foi o Paraíso…”
Alexander Dugin, The Fourth Political Theory
…
"Simultaneamente o Estado moderno pretende impor, na esteira do pensamento
neomarxista de Gramsci e da Escola de Frankfurt - para os quais o inimigo a
abater não é apenas o capitalismo mas toda a civilização judaico-cristã -, uma
nova disposição mental, que predisponha os homens a considerar, implicitamente,
todo o pensamento antigo, obsoleto e mera expressão subjectiva de um tempo que
passou, subvertendo, assim, todos os critérios de conhecimento e instaurando no seu lugar um historicismo absoluto, no qual a função da inteligência e da
cultura já não será captar a verdade objectiva, mas apenas
"expressar" a convicção colectiva do momento, colocada fora e acima
da distinção entre verdadeiro e falso.
Essa convicção, não sendo objectivamente válida,
mas apenas expressão dos novos tempos, já não será passível de confronto com as
ideias antigas para dirimir quais as correctas e quais as erradas.
O critério de veracidade
será substituído pelo de actualidade
e como todas as épocas são actuais para si mesmas, cada uma constituirá uma unidade
fechada, cujas ideias apenas serão válidas subjectivamente para si próprias.
Aristóteles e Cristo teriam ideias do seu tempo e
nós, as do nosso tempo, não sendo comparáveis porque, cada qual, está encerrado
na sua própria época. Gerar-se-á assim na esfera das ideias, uma espécie de
revolução permanente de todas as categorias de pensamento sucedendo-se numa
aceleração vertiginosa do devir histórico.
Uma teoria, por exemplo, não deverá ser aceite por
ser verdadeira, nem rejeitada por ser falsa, mas dela só se exigirá uma única e
decisiva coisa: que seja "expressiva" do seu momento histórico.
A dimensão
tempo será assim absolutizada num mundo onde estará ausente qualquer noção de
permanência; a mente humana tornar-se-á incapaz de captar tudo o que, para além
da vida vulgar, aponte para o universal. O empírico, o imediato, a preocupação
prática[1],
tornar-se-ão o limite máximo da visão humana, num mundo pequeno e
claustrofóbico.
Desaparecendo o sentido da eternidade e da
universalidade desaparecerá, o sentido da verdade e a capacidade humana de
distinguir o bem do mal, substituída por um sentimento colectivo de adequação
ao “nosso tempo”.
A capacidade humana de discriminar entre o
verdadeiro e o falso de distinguir o real e do ilusório – desenvolvida pela filosofia
grega e pelo cristianismo -
passará a ser tida por preconceituosa, passando a combater-se por todos
os meios a autoconsciência reflexiva e crítica pela qual o ser humano é capaz
de se sobrepor às ilusões colectivas e julgar a sua época.
Fechado na
prisão do seu momento histórico, o indivíduo não será capaz de ver para além de
si próprio, de exercer a sua inteligência autónoma, de ter razão contra a
opinião maioritária, os ventos da história ou as ilusões decretadas pelo poder.
Com a depreciação da consciência individual, virá,
necessariamente, a negação da evidência intuitiva[2]
como base para julgar a verdade. Daí a necessidade da criação de um novo
critério de determinação da verdade que passará a ser aquele que a elite
detentora do sentido da história determinar.
E, a história, para os revolucionários vai no
sentido dos amanhãs que cantam, da sociedade do bem-estar e da igualdade
universais, do paraíso terrestre que, qual cenoura adiante do burro, desde a
revolução francesa, tem mantido a humanidade esfalfada atrás do comboio da
História, perseguindo uma miragem, numa aceleração contínua do devir, que nunca
chegando a parte alguma, acaba por ser o único objectivo da vida, reduzida a um
acumular de experiencias e momentos atomísticos, num eterno fluxo de impressões
que acaba por varrer a inteligência da face da Terra, ao suprimir as únicas condições
que possibilitam o seu exercício: a autonomia da inteligência individual e a fé
na busca da verdade[3].
No limite, a elite vanguardista terá, apenas de
guiar hordas de imbecis para quem a verdade é a mentira, e a mentira a verdade.
Ao cidadãozinho do universo global, amputado das
suas raízes histórico-culturais e linguísticas, das suas referências religiosas
e do seu senso de tradição nacional, só restam três eixos de orientação na
vida: as suas pulsões corporais imediatas, a repetição acéfala de slogans e
chavões do dia que paradoxalmente chamará de seu “pensamento crítico” e por fim o
espírito da horda, do rebanho tangido por um big-brother omnipresente e invisível."
[1] Pragmatismo, escola segundo a qual o
conceito tradicional da verdade, como uma correspondência entre o conteúdo do
pensamento e um estado de coisas, deve ser abandonado em proveito de uma noção
utilitária e meramente operacional. Nela, a verdade
não corresponde a um estado objectivo, mas ao que pode ter aplicação útil e
eficaz numa dada situação.
[2] O
conhecimento que é evidente por si mesmo (ou seja, o simples conhecimento do significado
dos termos é suficiente para afirmar a certeza) é chamado de intuitivo.
[3] É, a
esta luz, que devemos entender o mantra
obcessivamente repetido pelos “católicos” modernistas segundo o qual Cristo
seria um homem radicalmente do seu tempo,
subentendendo-se, dessas palavras, que a Revelação deveria ser incessantemente adaptada
aos novos tempos (ao espírito do tempo).
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