No decurso desta história teremos de tratar daquilo a que se chama o problema da pobreza, em especial da pobreza desumanizada do industrialismo moderno. Mas, nesta primeira fase, a nossa dificuldade não reside no problema da pobreza, mas no problema da riqueza.
Porque, é a psicologia própria do lazer e do luxo que falsifica a vida.
A experiência que tenho dos movimentos modernos chamados "progressistas" levou-me a concluir que, de uma maneira geral, eles assentam em experiências próprias dos ricos.
É o que se passa com a falácia do "amor livre": a ideia de que a sexualidade é uma sequência de episódios. Esta ideia pressupõe longos períodos de férias em que o homem e a mulher acabam por se cansar um do outro e pressupõe dinheiro para ir à procura de outros parceiros. Um motorista de autocarro não tem tempo para amar a própria mulher, quanto mais para amar a mulher dos outros. E o êxito com que as separações são retratadas nas modernas peças de teatro deve-se ao facto de haver apenas uma coisa que os dramas não conseguem retratar - um fatigante dia de trabalho.
Posso dar muitos exemplos destes preconceitos plutocráticos que estão por trás de todas as modas progressistas.
Por exemplo, é um preconceito plutocrático que está por trás da frase: "Porque há-de uma mulher ser economicamente dependente de um homem?" A resposta é que, entre as gentes pobres, a mulher não está dependente do homem; excepto no sentido em que o homem também está dependente dela. Um caçador que vai à procura de algo para o jantar, rasga inevitavelmente as roupas, e tem de haver quem as cosa. Se um pescador apanha um peixe, tem de haver quem o cozinhe.
É perfeitamente claro que a ideia de que uma mulher que não tem um emprego fora de casa, não passa de um "parasita bonito e dependente", "um brinquedo", etc., resulta da sombria contemplação da família do banqueiro rico, em que o banqueiro vai à cidade fingir que faz alguma coisa, enquanto a mulher do banqueiro vai passear sem precisar de fingir que está fazer coisa alguma.
Um homem pobre e a sua mulher constituem uma equipa de trabalho.
G. K. Chesterton, What´s Wrong With the World
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