SANTO AMBRÓSIO E A MAQUILHAGEM

Receosas de desagradar aos homens, pintam-se o rosto e com a deformação do semblante tramam a adulteração da castidade. Que loucura alterar a fisionomia natural. Em primeiro lugar condena-se a si mesmo a mulher que deseja modificar o que é por nascimento. Enquanto excogita agradar a outrem, desagrada-se a si mesma. Ó mulher, que juiz mais verdadeiro da tua fealdade buscaremos, do que tu mesma, que temes parecer o que és? Se és bela, por que ocultas a beleza? Se és feia, por que mentes, dizendo-te formosa, se nem o favor da tua consciência, nem do erro alheio, conseguirás?

Quanto dinheiro já se torna necessário para que a mulher, ainda mesmo formosa, não desagrade! Pendem-lhe do pescoço preciosos colares, arrastam-se pelo chão suas vestes de brocado. Esta beleza é comprada ou lhe é própria? Além disso para os perfumes quantos artifícios são também empregados! As orelhas carregam-se de pedras preciosas, aos olhos se infunde novo colorido. Que lhe resta de próprio depois de tantas alterações? A mulher perde os seus sentimentos e crê que poderá viver?

Vós, porém, ó virgens, sois felizes, vós que ignorais os adornos que merecem antes o
nome de tormentos, vós cujas faces se ornam de santo pudor e cujo enfeite é a santa
castidade. Despreocupadas de agradar olhares humanos, avaliai vossos méritos considerando o erro alheio.

Vós também lutais pela beleza, mas combateis pela formosura da virtude e não do corpo, porque aquela sim resiste à idade, à doença e à morte. Só Deus quereis árbitro da beleza. Ele que ama as almas por mais belas, ainda que em corpos menos formosos.

Santo Ambrósio, O Esplendor do Lírio

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