Receosas de
desagradar aos homens, pintam-se o rosto e com a deformação do semblante tramam
a adulteração da castidade. Que loucura alterar a fisionomia natural. Em
primeiro lugar condena-se a si mesmo a mulher que deseja modificar o que é por
nascimento. Enquanto excogita agradar a outrem, desagrada-se a si mesma. Ó
mulher, que juiz mais verdadeiro da tua fealdade buscaremos, do que tu mesma,
que temes parecer o que és? Se és bela, por que ocultas a beleza? Se és feia,
por que mentes, dizendo-te formosa, se nem o favor da tua consciência, nem do
erro alheio, conseguirás?
Quanto
dinheiro já se torna necessário para que a mulher, ainda mesmo formosa, não
desagrade! Pendem-lhe do pescoço preciosos colares, arrastam-se pelo chão suas
vestes de brocado. Esta beleza é comprada ou lhe é própria? Além disso para os
perfumes quantos artifícios são também empregados! As orelhas carregam-se de
pedras preciosas, aos olhos se infunde novo colorido. Que lhe resta de próprio
depois de tantas alterações? A mulher perde os seus sentimentos e crê que
poderá viver?
Vós, porém,
ó virgens, sois felizes, vós que ignorais os adornos que merecem antes o
nome
de tormentos, vós cujas faces se ornam de santo pudor e cujo enfeite é a santa
castidade. Despreocupadas de agradar olhares humanos, avaliai vossos méritos
considerando o erro alheio.
Vós também
lutais pela beleza, mas combateis pela formosura da virtude e não do corpo,
porque aquela sim resiste à idade, à doença e à morte. Só Deus quereis árbitro da
beleza. Ele que ama as almas por mais belas, ainda que em corpos menos
formosos.
Santo
Ambrósio, O Esplendor do Lírio
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