Gabriel Attal

 O que faz, de nós, seres humanos é o facto de sermos capazes de ver, tudo aquilo que pensamos, imaginamos, raciocinamos e recordamos, como um todo em relação ao qual podemos dizer um Sim ou um Não, um “é verdadeiro” ou um “é falso”, isto é, o sermos capazes de julgar da veracidade ou falsidade de tudo aquilo que a nossa própria mente vai conhecendo ou produzindo.

 A nossa vida intelectual é, portanto, função da nossa vida moral.

  Ou, por outras palavras, para se ser capaz de apreender a verdade – objectivo último da vida intelectual - é necessário ter-se senso moral e uma vida moralmente orientada.

 Qualquer um pode conceber uma criação intelectual qualquer (pensar, até um burro pensa), mas quanto mais, aquele que pensa, tiver renunciado a uma vida orientada pela lei moral, mais as suas  construções intelectuais serão resultado, não da realidade externa, mas dos seus desejos pessoais internos. 

 Na vida intelectual ou conformamos os nossos  desejos à realidade, ou conformamos a realidade aos nossos desejos. Não há terceira opção.  

 Como exemplos do  primeiro caso temos, Sócrates, Platão, Aristóteles, S. Agostinho e S. Tomás,... ; como exemplos do segundo, temos a quase totalidade dos intelectuais modernos. 

 É certo que o vício e os comportamentos imorais, sobretudo os sexuais, são muito comuns (a carne é fraca). E, o apetite sexual  é um apetite que, se não for convenientemente controlado, com facilidade pode adquirir um poder desmesurado, levando quase que inevitavelmente, a  comportamentos sexuais compulsivos que estão nos antípodas daquilo que é um comportamento racional.

 E, é aí, que entra em acção uma tentação característica da nossa época: a tentação de transmutar o mal em bem; de usar o intelecto, como forma de des-legitimar a norma, ou de a subverter. 

O acontecimento intelectual decisivo ocorre, pois, quando o vício se transmuta em teoria, isto é, quando o “intelectual” decidido a revoltar-se contra a lei moral - e portanto contra a razão e a verdade - tenta encontrar uma justificação racional para o seu vício.

 Todos os “ismos” modernos resultam directamente desta revolta; todos eles são tentativas de racionalizar e justificar vícios; todos eles podem ser entendidos à luz da desordem moral dos seus fundadores, proponentes e adeptos; todos eles são em última análise racionalizações justificantes de escolhas pessoais que  os seus criadores sabiam serem erradas. 

No seu livro The Silence of St. Thomas, Josef Pieper sintetiza muito bem o que, aqui, está em causa:

 «Como nos nossos dias estamos convencidos que para alcançar a verdade basta pôr o cérebro a trabalhar mais ou menos vigorosamente, desconsideramos a abordagem ascética do conhecimento e perdemos consciência da estreita relação existente entre o conhecimento e o estado de pureza. 

 S. Tomás diz que o primeiro fruto da concupiscência é a cegueira do espírito.

 Só quem não deseja nada para si próprio, quem não está subjectivamente “interessado”,  pode apreender a verdade. 

 Pelo contrário, uma vontade impura, egoísta e corrompida pelo desejo de prazer, destrói tanto a resolução do espírito como a capacidade do intelecto para escutar com silenciosa atenção a linguagem da realidade

 A vida intelectual moderna caracteriza-se, pelo contrário, por um círculo vicioso, oscilando entre os vícios (sobretudo) sexuais e  os vícios intelectuais: os vícios sexuais levam a más construções intelectuais, meras racionalizações dos vícios pessoais que, voltando as costas à verdade em prol dos desejos subjectivos dos respectivos autores, levam, por sua vez, a comportamentos ainda mais dissolutos que, por seu lado, conduzem a produções ideológicas cada vez mais absurdas e ridículas.

  Um exemplo paradigmático, disto mesmo, é John Maynard Keynes. A sua homossexualidade é fundamental para compreender as suas teorias económicas. Numa época em que a maioria dos países estão esmagados por dívidas soberanas impagáveis, convém lembrar que, na origem deste fenómeno, esteve uma teoria económica radicalmente errada que advoga a penhora do futuro em nome do consumo presente. Ora, esta é uma forma de ver as coisas, caracteristicamente homossexual. 

 A natureza humana não se deixa dividir em compartimentos estanques, mutuamente exclusivos. Um homem que escolhe confirmar-se na (assumir a) sua homossexualidade tem uma visão do mundo completamente diferente de um outro que adopte a visão cristã segundo a qual a sexualidade está inextricavelmente ligada à procriação e limitada, na sua expressão, ao cônjuge. 

 A economia, tal como a sexualidade, baseia-se na natureza humana. No esquema clássico das coisas, a economia, era a ciência que fazia a ponte entre a ética e a política, todas as três fazendo parte da sabedoria prática que procurava atingir o bem nos assuntos humanos. De facto, a palavra “economia” tem a sua origem etimológica na palavra grega oikos, que significa “governo do lar”, o que mostra ser a tradição clássica sábia, ao expressar desta forma, a forte conexão que existe entre o comportamento económico e as relações entre os sexos, cujo o arquétipo clássico era a família tradicional. 

O homossexual tem uma visão muito peculiar da sexualidade humana e portanto da família e como tal não é de estranhar que a sua visão da economia seja igualmente peculiar. 

Como Sir William Rees-Mog, comentava “a homossexualidade, a qual é uma rejeição das “regras comuns”, levou Keynes a rejeitar o “padrão ouro” por este se traduzir num controlo automático da inflação monetária, levando-o a defender uma visão infantilizada da economia, segundo a qual, o usufruto dos prazeres presentes se sobrepõe aos interesses das gerações futuras." 

A economia para Keynes era apenas um meio de Keynes e os seus comparsas melhor poderem usufruir, no imediato, dos frutos por ela proporcionados. 

 Da correspondência de Keynes com Lytton Strachey e Duncan Grand, resulta claramente, que para ele a homossexualidade não era uma mera preferência sexual, mas fazia parte da “vida boa” tal como era entendida pela “ética” do grupo elitista de intelectuais e artistas conhecido por Bloomsbury, onde pontificavam nomes como E. M. Foster, Lyttton Strachey, Roger Fry, Clive Bell, Sir Antonhy Blunt, entre outros.

 Esta “ética”, punha a tónica na satisfação imediata dos desejos, do mesmo modo que a teoria económica de Keynes se veio a basear totalmente no “curto prazo” precludindo qualquer julgamento de “longo prazo” (“no longo prazo todos estamos mortos”).

 Schumpeter delicadamente chamou “visão infantil” a esta “ética” que na doutrina económica de Keynes se traduziu na assumpção de ser consumo e não a poupança, o motor da economia; sendo a poupança entendida, até, por ela como algo de nocivo do ponto de vista económico e social. 

 A chave para compreender tudo isto está naquilo a que se chamou convencionou chamar modernidade, isto é, a grande revolta contra as normas morais estabelecidas e contra as verdades religiosas milenares. 

Uma vez estas afastadas não tardou que a modernidade e o vício sexual da homossexualidade ficassem inextricavelmente ligados. 

Efectivamente, a subversão que a homossexualidade implica, vai muito além da simples destruição das regras estabelecidas, porque se trata de algo de carácter muito mais profundo, uma vez que, todos os que tomam a opção de basear a sua conduta naquilo que são, em vez de a fundarem naquilo que deveriam ser, mais tarde ou mais cedo, ainda que disso possam não ter consciência, vêem a odiar e a querer destruir todos aqueles que não o fazem - a sociedade onde se inserem, a família tradicional donde procedem, as crianças que dela resultam, as mulheres que as dão à luz, a vida (que são incapazes de gerar) e a  Igreja que tudo isto abençoa. 

Como S. Paulo disse dos intelectuais do seu tempo:

  Quanto mais se chamam a si próprios filósofos, mais estúpidos se tornam… Por isso Deus os abandonou aos seus prazeres imundos em cujas práticas desonram os seus próprios corpos, ao trocarem a Verdade Divina por mentiras, servindo as criaturas em vez do Criador… Por esse motivo Deus os abandonou às suas paixões degradantes e as suas mulheres abandonaram as relações naturais por práticas contra-natura. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homem com homem a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario. Como não se preocuparam em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e daí o seu procedimento indigno… (Romanos 1:22-28)

  Ou, dizendo doutra forma, o comportamento imoral, nomeadamente a nível sexual, é o resultado lógico e, simultaneamente, a força motriz, do relativismo cultural, o qual não passa duma mera racionalização justificante da imoralidade, em geral, e dos vícios sexuais, em particular, nomeadamente da homossexualidade.

 E, esta, é a maldição da nossa época.

E. Michael Jones

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