O Monge,
afinal, Estava Certo!
Vamos supor que
algumas pessoas muito importantes, a conselho de alguns “especialistas” também muito
importantes, decidem que um determinado candeeiro de iluminação
pública deve ser derrubado. Como é usual nestas situações, começarão por promover
uma campanha nos jornais para levar o cidadão comum a reivindicar - como se de um
propósito seu, há muito amadurecido, se tratasse - o derrube do tal candeeiro. Acicatados
os ânimos, mais cedo ou mais tarde, gerar-se-a um tumulto nas ruas por tão
maligno candeeiro ainda permanecer de pé.
Mas, suponhamos, ainda, que no meio da
multidão indignada surge, qual símbolo do espírito medieval, um monge envolto
no seu hábito de burel, que levantando a voz diz, à maneira árida dos Escolásticos:
“Meus irmãos, antes de derrubar o candeeiro, considerem primeiro qual o valor
da Luz - será, ela, em si mesma, boa?”
Muito naturalmente, ninguém prestará a mais
leve atenção ao monge e, ele, será neutralizado, na hora; todos, à uma, correrão
a derrubar o candeeiro e, uma vez no chão, congratular-se-ão com o seu
pragmatismo, tão anti medieval.
Mas,
depressa se sentirão frustrados porque cada um terá actuado com uma intenção
diferente: uns porque queriam que o novo candeeiro fosse mais económico; outros,
que o candeeiro fosse mais bonito; outros, ainda, porque não queriam candeeiro nenhum porque gostam de escuridão ou porque querem simplesmente destruir por
destruir; para uns existiriam candeeiros a mais; para outros, a menos; alguns
quereriam, simplesmente, prejudicar o município; e, depressa se degladiariam,
batendo-se, uns aos outros no escuro, sem saberem, se quer, em quem batiam.
Então,
gradual mas inevitavelmente, hoje, amanhã ou depois, surgiria a convicção de
que, afinal, o monge estava certo, e que tudo, no fundo, depende da filosofia
da luz.
Só que, então, o que se poderia ter discutido
em plena luz, tem agora de ser discutido no meio das mais profundas trevas.
~G.K. Chesterton: Heretics, Chap. I —
Introductory Remarks on the Importance of Orthodoxy.
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