Neste aspecto, o cristianismo é diferente do Islão: o Deus cristão actua segundo o Logos. Quando utilizava o termo Logos, o Papa Bento XVI, estava a situar o cristianismo e, por extensão, a cultura europeia que cresceu sob a sua influência, na linha da tradição da filosofia grega e no pressuposto de que esta fazia parte do plano de Deus para a humanidade, como se tornou claro quando São Paulo se viu obrigado da viajar até à Macedónia.
Por outras palavras, a filosofia grega não é apenas grega, é universal: pois, ela tinha já, como mais tarde o cristianismo, a convicção de que agir de forma irracional contradiz a natureza de Deus.
Por isso, o evangelista diz, "No princípio era o Logos, e o Logos era Deus".
Mas, se os
muçulmanos são a-Logos, devido à
compreensão imperfeita que Maomé tinha das tradições monoteístas que absorveu
na periferia das fronteiras de uma civilização greco-romana em
colapso, os judeus são anti-Logos, no
sentido em que rejeitam Cristo por completo.
O Islão não
rejeitou Cristo; mas não conseguiu compreendê-Lo, como é manifesto na
sua rejeição tanto da Trindade como da Encarnação, acabando por tentar mascarar
esse mal-entendido ao honrar Jesus como profeta.
Mas, os judeus, eram o povo escolhido por Deus.
Quando Jesus chegou à terra como o seu Messias há muito esperado, eles,
que, como todos os homens, tinham recebido o livre arbítrio de Deus,
tiveram de tomar uma decisão e aceitar ou rejeitar Cristo, o qual era,
segundo os cristãos, a encarnação física do Logos. Acontece que, os judeus queriam que o
Messias os salvasse segundo as suas condições - que estavam impregnadas de um enorme orgulho racial.
Assim, quando Jesus chega a Jerusalém, o termo judeu, no Evangelho de S. João, já tinha deixado de ser um termo puramente racial; "judeu", tinha passado a significar alguém que rejeita Cristo. A tónica, já não estava, pois, na raça.
Por outras palavras, os judeus que aceitavam Jesus passaram a ser designados por cristãos e a constituírem o verdadeiro "Reino de Israel"; os judeus que O rejeitavam passaram a ser conhecidos simplesmente como "judeus" constituindo a "sinagoga de Satanás"
Como São
João relata no Apocalipse, "os que se dizem judeus são na realidade
mentirosos e membros da sinagoga de Satanás" (Ap 2,9; 3,9).
Os judeus que rejeitaram Cristo rejeitaram-No porque Ele foi crucificado e eles queriam um líder militar poderoso, não um servo sofredor. Por isso Lhe preferiram, Bar-a-Bhas, um chefe sedicioso que se opunha a Roma, .
Mas, ao
rejeitarem Cristo, rejeitaram o Logos, que inclui em si os princípios de toda a
ordem social; e, ao fazerem-no, tornaram-se revolucionários.
...
Os judeus podem ter-se tornado revolucionários ao pé da cruz, mas as implicações totais da sua decisão só se tornaram evidentes 30 anos mais tarde, quando se rebelaram contra Roma e esta retaliou destruindo o Templo.
Desde então, os judeus não têm templo, nem sacerdócio, nem sacrifício e, consequentemente, não têm forma de cumprir a sua aliança.
Vendo o caminho que a batalha por Jerusalém estava a tomar, um
rabino, e vice-chefe do Sinédrio, de nome Jochanan ben Zakkai, fez-se passar
clandestinamente para fora de Jerusalém numa mortalha e, depois de ser
reconhecido pelas autoridades romanas como amigo de Roma, foi-lhe concedido o
privilégio de fundar uma escola rabínica em Jabneh.
Foi, nesse
momento, cerca de 30 anos após a fundação da Igreja, que o judaísmo moderno, o
judaísmo tal como o conhecemos, nasceu sob a forma de uma sociedade essencialmente de
debate, porque, na ausência de um Templo, era tudo o que os judeus podiam
fazer.
Os
resultados destes debates intermináveis ficaram conhecidos como o Talmud, que
foi sendo escrito ao longo dos seis séculos seguintes. Os debates nada fizeram
para erradicar o espírito revolucionário da mente judaica, antes o
intensificaram, incentivando ainda mais os judeus a procurarem um Messias
militar.
E, obtiveram efectivamente o seu Messias militar cerca de 60 anos após a destruição do Templo, quando Simão Bar Kokhba se ergueu contra Roma em 131. Os rabinos de Jerusalém, com raras excepções, reconheceram Bar Kokhba como o Messias e, como que para provar que o aspecto racial do judaísmo se tinha tornado obsoleto, os judeus cristãos foram expulsos por não o fazerem.
Já não
importava se a respectiva mãe era judia; o factor determinante do judaísmo tinha-se
tornado a rejeição de Cristo, e essa rejeição conduzia inexoravelmente à
revolução.
O célebre
académico judeu Jacob Neusner confirma, de forma reveladora, que o
cristianismo desempenha um papel essencial na definição de quem deve ser
considerado judeu: “Entre os judeus contemporâneos, os que praticam o
cristianismo deixam de fazer parte da comunidade étnica judaica, enquanto os
que praticam, por exemplo, o budismo podem permanecer dentro dela".
O judeu recentemente convertido ao catolicismo , Roy Schoeman, escreve: "Lembro-me de rezar assim: 'Deixa-me saber o teu nome - não me importo que sejas Buda e que eu tenha de me tornar budista; não me importo que sejas Apolo e que eu tenha de me tornar pagão; não me importo que sejas Krishna e que eu tenha de me tornar hindu; desde que não sejas Cristo e que eu tenha de me tornar cristão'"!
Esta
inimizade contra o Logos, representado na pessoa de Jesus Cristo, está presente
no Talmud. O estudioso judeu de Princeton, Peter Schaefer, observa que as
histórias talmúdicas ridicularizam as afirmações de que Jesus nasceu da Virgem
Maria, desafiam a Sua pretensão de ser o Messias e afirmam que Ele foi
executado com razão, por blasfémia e idolatria, e que está no Inferno, para
onde irão também todos os Seus seguidores.
Ironicamente,
o próprio Talmud que vilipendia Cristo fornece indirectamente algumas provas de que
Ele é o Messias.
Roy Schoeman salienta, por exemplo, que, para se certificarem de que o sacrifício do Templo tinha sido bem-sucedido na expiação dos pecados dos judeus, os sacerdotes e rabinos tinham de verificar se um determinado fio escarlate, lá existente, se tinha tornado branco. Ora, o próprio Talmude o versículo de Rosh Hashaná 31b, conta que "durante quarenta anos antes da destruição do Templo, o fio escarlate nunca mais ficou branco, permanecendo sempre vermelho".
Isto é, o próprio Talmud "confirma involuntariamente" que os sacrifícios do Templo falharam durante 40 anos antes da destruição do Templo ocorrida a 70 d.C - ou seja, exactamente a partir do momento em que Cristo morreu na Cruz e o véu que cobria o Santo dos Santos no Templo se rasgou em dois.
A essência do judaísmo moderno é pois o anti-cristianismo e, portanto, a rejeição do Logos - da razão, da ordem, da moral, da Criação, da estrutura da realidade - tal como foi criada por Deus.
Qualquer pessoa pode escolher rejeitar o Logos - todos nós o fazemos ou somos tentados a rejeitar o Logos inferior todos os dias. Mas, ter a rejeição do Logos Superior como núcleo central de uma religião e ter, como factor determinante de pertença a esse grupo, a rejeição do mesmo logos, significa que essa comunidade está imbuída de espírito revolucionário.
E. Michael Jones,
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