Tumultos em França
"Os seres humanos relacionam-se naturalmente uns com os
outros de uma forma que pode ser ilustrada por meio de círculos concêntricos. As nossas lealdades e responsabilidades
imediatas dizem respeito aos membros das nossas próprias famílias nucleares e
amigos. No círculo concêntrico seguinte
estariam os membros das nossas famílias alargadas, em relação aos quais também
devemos um certo grau de lealdade e responsabilidade, mas em que a dívida não é
tão grande como a que temos para com a nossa família direta. No círculo seguinte, para além deste, estão
os nossos compatriotas, a quem devemos lealdade e em relação aos quais temos
alguma responsabilidade, mas que não são tão grandes como a lealdade e a
responsabilidade que temos para com as nossas famílias alargadas, já para não
falar das nossas famílias mais próximas.
No círculo mais exterior estão as outras nações e a raça humana em
geral, a quem também devemos lealdade e para com quem temos responsabilidades,
mas que não são de forma alguma tão grandes como as que devemos às nossas
próprias nações, muito menos às nossas famílias alargadas e imediatas.
É virtuoso, portanto, ter uma lealdade especial para com a família e ser patriota; e a falta destes hábitos de pensamento e acção é, consequentemente, viciosa. Mas, tal como acontece com outras virtudes, existem aqui, de facto, dois vícios que lhes correspondem - um de excesso e outro de deficiência.
O vício do excesso manifesta-se no tribalismo e no nacionalismo. Consideremos, por exemplo, o mafioso cuja fidelidade ao seu clã é tão excessiva que considera justificáveis os crimes e outras imoralidades quando são cometidos no interesse da sua família. Ou pense-se na pessoa que se identifica tão profundamente com o grupo étnico a que pertence que é hostil e paranoico em relação aos que não pertencem a esse grupo. Ou pensemos no nacionalista que acredita que o seu país ou raça deve impor a sua vontade a outros países e raças e explorá-los em seu próprio benefício.
Mas, é no vício por deficiência que se insere a
fraternidade. Assim como se pode ser
excessivamente ligado à própria família ou nação, também se pode ser
insuficientemente ligado a elas. Este
vício é manifestado por aqueles que pensam que é melhor considerar-se um
"cidadão do mundo" ou membro da "comunidade global" do que ter
uma fidelidade especial ao seu próprio país.
É a ideia de um "mundo sem fronteiras" e de uma
"fraternidade dos homens" – e da fraternidade entendida como um ideal
de irmandade universal que se sobrepõe ou substitui a lealdade familiar, o
patriotismo e outras lealdades locais."
Edward Feser
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