“O amor, hoje, positivou-se; isto é, converteu-se numa mera forma de disfrute que
é suposta gerar, sobretudo, sentimentos positivos. Já não é uma acção, uma
narração, um drama, mas uma emoção, uma excitação sem consequências. Hoje, o
amor é apenas uma ordenação de sentimentos agradáveis e consumíveis.
Mas, a fidelidade não é um sentimento nem uma
emoção, é uma acção. É determinação. A fidelidade transforma o acaso em
destino. Cria eternidade.
Na Carta a D.
do filósofo francês André Gorz a sua esposa, encontra-se, por exemplo, este testemunho
de fidelidade:
Vais fazer oitenta e dois anos. Diminuíste seis
centímetros, só pesas quarenta e cinco quilos, e continuas a ser bela, graciosa
e desejável.
Esta
fidelidade é uma acção, não é apenas um sentimento. Mas, vivemos numa sociedade
em que já não há acção. Numa sociedade de afectos não se pode actuar.
Hoje, a maioria das pessoas pensa que o amor é uma
espécie de duche escocês de afectos. E, por isso, muda-se de parceiro, porque
se tem fome de novos afectos, de novas experiências afectivas. E, assim o amor
perde estabilidade.
Talvez se possa
atribuir a origem desta sociedade de “poli amor” - expressão detestável
-, ao modo de produção capitalista ou neoliberal: trata-se de conseguir maximizar as opções de afecto disponíveis para
consumo.
O modo de produção económico refelecte-se assim
também ao nível do amor. A fidelidade e a produtividade excluem-se mutuamente.
É a infedilidade que garante uma maior procura e um maior aumento da
produtividade.”
Byung-Chul Han, Capitalismo e Pulsão de Morte
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