DEMOCRACIA GLOBAL E O REINO DO ANTI-CRISTO


"No que diz respeito à democracia,  existem hoje uma multidão de falsos mitos. Experimentem criticá-la, por mais levemente que seja, perante um ocidental e verão o que vos acontece. Muitas pessoas estão convencidas de que se trata da mais contemporânea, desenvolvida e civilizada forma de organização política. No mínimo, podemos dizer que se trata de uma crença completamente errada.
A democracia, bem pelo contrário, é a mais antiga, arcaica, primitiva ou, se preferirem, "barbárica" forma de organização política. As mais antigas sociedades historicamente conhecidas eram fundadas no princípio democrático. Mas, com o decorrer do tempo, a modernização dos sistemas políticos levou à rejeição da democracia em favor da aristocracia e da monarquia. Aristóteles, dizia a propósito que "a democracia está grávida de tirania".
A democracia ressurgiu paradoxalmente na Europa, passados 2000 anos, na chamada idade moderna, do iluminismo e do progresso.
Nesse período alguns génios europeus decidiram rejeitar as normas racionais da escolástica e pôr o homem no centro do universo. Muitos vêem nisto um passo em frente. Mas, poucos se lembram que essas figuras repudiaram os dogmas católicos não em nome duma ordem secular e científica (que ainda não existia) mas de ensinamentos mágicos, alquímicos e herméticos, ou seja, em prol duma forma profundamente arcaica de experienciar o carácter sagrado do mundo. Marsilio Ficino, Giordano Bruno, Michelangelo, etc., eram advogados apaixonados da mitologia grega antiga, estudiosos dos mistérios egípcios e profundos conhecedores da Kabbalah. O interesse da Europa pela democracia provem deste legado. A democracia política foi redescoberta juntamente com Hermes Trimegistus, a Pedra Filosofal e deuses que se julgava terem desaparecido da terra há muito.
Hoje, a democracia apresenta-se a si própria como o sistema político mais moderno, baseando-se na teoria dos "direitos humanos". Mas, tal como no passado, continua a não existir qualquer vestígio de racionalidade no sufrágio (agora) universal. A razoabilidade de uma pessoa é, nele, anulada pela irrazoabilidade de outra, cujo voto tem igual valor. E, não obstante as tentativas de a "modernizar", em última análise, a democracia, continua absolutamente arcaica e irracional (que racionalidade há em confiar num vago "espírito" estatístico?).
Só que, no século XXI, através da projectada sociedade civil global, já não fala, como outrora, o espírito da polis, da tribo ou do Volk, mas uma espécie de "subconsciente colectivo" generalizado e consensual que a tradição cristã identificava como o "O Príncipe deste Mundo".
E, esse  mal articulado balbuciar planetário, é interpretado em exclusivo por um colégio de novos "Principais dos Sacerdotes", que se apresentam sob a máscara de paladinos da "open society" e da "globalização".
Não é difícil adivinhar a quem, eles, realmente servem."


Alexander Dugin, Rise of the Fourth Political Theory, 2017.

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