Da eutanásia ao suicídio assistido

 

muito mais de uma década que observo a viragem suicida da cultura ocidental. O seu início remonta a muitas décadas atrás, quando eu ainda era estudante de medicina.

Nessa altura, a questão chamava-se “eutanásia” e centrava-se nas pessoas cujo sofrimento era considerado grave e intratável e que eram incapazes de se matar - e no seu direito a que outras pessoas as matassem.

Mais recentemente, a tónica foi colocada na morte “com dignidade” - o que significava sem sofrimento; assim, o debate alargou-se e passou a incluir pessoas capazes de se matarem a si próprias – mas, de uma forma que lhes causasse dor ou sofrimento. O direito solicitado era que outra pessoa as matasse mas com menos dor, em vez de elas se matarem a si próprias com dor.

Actualmente, chamamos-lhe “suicídio assistido” e chegámos a um ponto em que não se coloca a questão da “necessidade”, mas no qual o direito exigido é o de se ser morto agradavelmente por outra pessoa. Com a ideia subjacente de uma morte feliz ao adormecer num sono permanente enquanto se está ao ar livre num local belo - como um Parque Nacional.

Quando se colocou a questão da criação de um sistema burocrático que permitisse legalmente que algumas pessoas pudessem matar deliberadamente outras pessoas, houve quem alertasse para o facto de se tratar de um caminho moralmente escorregadio.

Bem, se examinarmos a lógica por detrás de tais propostas e a rapidez com que o direito a ser morto se expandiu em todo o Ocidente, de um punhado de pessoas, para... toda a gente, vemos que a questão passou de abarcar apenas casos extremos de infelicidade e necessidade, para a pura conveniência amoral (ou seja, imoral) à escolha do consumidor.

A razão para permitir o assassínio legalizado, deixou de ser um remédio desesperado e de última hora para os doentes terminais ou para os que sofrem dores agonizantes, e passou a ser uma preferência de estilo de vida.   

Esta é uma daquelas (muitas) situações em que uma estratégia executada de cima para baixo tem a aceitação das massas; porque na nossa sociedade materialista e sem Deus, a base dos valores, da moral, das leis é simplesmente a psicologia humana utilitária - isto é, o que as pessoas querem, o que as faz felizes, o que as faz sentir menos miseráveis...

Tornou-se, assim, uma questão onde os pecados predominantes desta época - medo, cobardia, desmotivação, ressentimento, desonestidade e (acima de tudo) desespero - podem operar livremente e sem entraves.

A não ser que as tendências se invertam, não tardaremos certamente a ver o suicídio tornar-se uma estratégia de estilo de vida publicamente explícita e favorecida pelos media, com as burocracias ocidentais a fornecerem todas as facilidades necessárias.

Na guerra espiritual deste mundo ter suicídios em massa de pessoas por razões como a perda de toda a esperança, o medo do futuro, a recusa em tolerar a possibilidade da dor e o desespero no presente - é uma grande vitória para os poderes do mal.

Porque seriam mortes que aconteceriam num estado de condenação auto-escolhida: isto é, morrer rejeitando decisivamente a realidade de Deus e as promessas de Jesus Cristo.

Bruce Charlton, 25/9/2024

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