“O triunfo
da concepção mecanicista do universo, tal como foi postulada por Hobbes, Descartes e Newton, levou à
corrupção da ciência económica, ao ter sujeitado completamente a ordem moral à ordem física.
O abandono da escolástica que preconizava a prevalência da ordem moral sobre as trocas económicas, juntamente com a
ascensão do pensamento "científico", levou ao aparecimento do “mercado”
impessoal - uma espécie de imitação do universo mecânico newtoniano - entendido
como o único árbitro de todas as trocas económicas.
Os primeiros
proponentes do liberalismo clássico tentaram, fugir à flagrante imoralidade da
nova ordem económica por eles criada, postulando a existência de um mecanismo intrinsecamente benévolo
– a famosa “mão invisível” – que, teria o poder mágico de transmutar a ganância
e a avareza pessoais numa bênção social - como se, de vícios, pudesse sair algo de bom.
Os indivíduos
que efectuam trocas comerciais passavam a ser vistos como não estando envolvidos
numa relação pessoal/moral com os demais, mas antes confrontados com um sistema
de leis económicas empíricas e cegas, movidas pelo interesse próprio, mas
reguladas por forças impessoais e abstractas que eram o equivalente económico das
leis que regiam o universo físico, tal como era concebido por Newton.
Na economia moderna, que tomou a figura de Fausto por
modelo, "a justiça e a ética passaram a ser apenas uma questão de
cumprimento de contractos".
Os agentes
económicos viram-se assim livres da responsabilidade moral pessoal quanto à
forma como usavam o seu poder económico – algo que foi aumentando gradualmente
com a crescente despersonalização da ideia de mercado.”
Langholm, Odd. The
Legacy of SColasticisme in Economic Thought.
Comentários
Enviar um comentário