Dente Português

 

Ó dente cariado, quanto do teu mal,

É falta de fio dental!

Por o usarmos, quantas gengivas sararam,

Quantos dentes não se estragaram,

Quantos sisos ficaram por sacar,

Só, por entre os dentes, o passar!

 

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Quando a cavidade ainda é pequena.

Quem usa o fio com ardor,

Não chega ao limiar da dor.

Deus, ao dente, a cárie e a periodontite, deu,

Mas, nele é que espelhou o céu (da boca)!

 

João Faria de Morais, 16/6/90

(Sonho-me às vezes um heterónimo de Fernando Pessoa,

Capaz de compor poesia minimamente boa…)

 

 

             MAR PORTUGUÊS

 

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”

 

Fernando Pessoa, Mensagem

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