Scruton
salienta que o liberalismo ao pôr de lado as práticas e os princípios
tradicionais supõe, de forma ingénua e arrogante, que pode fazer melhor,
quando, na verdade, as suas novidades se baseiam numa visão muito mais míope
das coisas do que a que está incorporada na tradição, acabando frequentemente
por gerar o caos; e a tradição que o
liberalismo minou não pode ser facilmente recuperada. (Para usar uma famosa
analogia de Wittgenstein, restaurar o senso comum incorporado na tradição
depois de este se ter perdido é como tentar reparar uma teia de aranha rasgada
com os dedos).
Algo
semelhante é verdade quanto à teologia - de facto, é ainda mais verdade na
teologia, uma vez que a credibilidade de qualquer reivindicação de representar
a revelação divina depende crucialmente da consistência com o que essa
revelação sempre foi entendida. O facto de os eclesiásticos modernos, através
das suas palavras e acções, insinuarem que dois milénios de ensinamentos
tradicionais consistentes não são dignos de confiança, só pode gerar cepticismo
quanto à fiabilidade dos próprios eclesiásticos. Na teologia como na política,
aqueles que minam a tradição cortam o ramo onde se sentam.
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