RESURREXIT SICUT DIXIT


De certa forma, Cristo tinha de ressuscitar dos mortos. Ele havia feito da ressurreição a prova da divindade da Sua missão; era o sinal supremo concedido aos corações duros da Sua própria geração. Sem a ressurreição, a sua doutrina e a sua vida teriam parecido aos homens apenas mais um episódio na longa história dos pseudo-profetas, que se prolonga até aos nossos dias, que prometem voltar pouco depois da morte e cujos discípulos se têm posto a andar enquanto esperam, sentindo-se cada vez mais tolos, cada vez mais zangados por terem sido enganados, até que, finalmente, se afastam, para sempre, do mestre que não cumpriu o seu compromisso.

A Mãe de Cristo, no seu cântico triunfal, tinha dito de Deus que Ele exaltava os humildes e derrubava os poderosos. Seu Filho insistira: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”; “Aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado”. Ele próprio havia sido humilhado ao máximo, até a morte vergonhosa na cruz. A exaltação da Sua ressurreição foi a única resposta adequada de Deus à humilhação do Calvário.

Os corações pesados e os passos lentos dos discípulos que caminhavam para Emaús são uma imagem ténue da fé débil que teria tremeluzido nos discípulos de Cristo se Ele não tivesse ressuscitado; Paulo tinha razão quando afirmou que, se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé teria sido vã. Repare-se no desilusão amarga das palavras dos dois discípulos que saem de Jerusalém para escapar à cena da sua grande desilusão; explicam ao Cristo ressuscitado, a quem ainda não haviam reconhecido, que esperavam que o seu Mestre fosse o Messias, vindo salvar todo o Israel. Estas palavras são apenas um leve indício da enorme, da estrondosa desilusão que teria vindo ao coração dos homens se Cristo não tivesse ressuscitado; uma desilusão tanto mais desastrosa quanto mais altas tinham sido as esperanças dos homens.

A frase significativa que dirigiram a Cristo, “já é tarde e o dia está muito adiantado”, é muito mais do que uma declaração da hora do dia; é um anúncio da aproximação de uma noite eterna descendo para sempre sobre os corações dos homens, caso o seu Mestre não tivesse ressuscitado. Pelo contrário, o coração altivo e os passos ansiosos com que, tendo-O reconhecido, se apressaram a regressar a Jerusalém, sem esperar pelo repouso nem pelo alimento, mostram-nos tenuemente até onde poderão chegar a fé e a esperança, confirmadas por Cristo ressuscitado: nenhuma hora é demasiado tarde, nenhum dia demasiado cansativo, nenhuma viagem demasiado longa. Porque nós ressuscitámos da morte do pecado e a meta luminosa da eternidade está, convidativa, diante de nós.

 

 Walter Farrel, OP, A companion to the Summa, Volume IV, pag. 135

Comentários

Mensagens populares deste blogue