Quando se
encontra uma alma interior (uma alma unida intimamente a Deus), choca-nos a sua
dignidade, a sua naturalidade, a sua graça. Dir-se-ia que é de sangue real, e
com razão. É filha de Rei, é rainha. Não é Cristo o Rei dos reis? Não é ela sua
esposa? Por que nos havemos de admirar? Tudo nela participa desta nobreza
divina: as suas palavras, os seus gestos, as suas maneiras, os seus passos mais
leves revelam-na. São graciosos, discretos e firmes. Ao andar, não faz barulho,
não atrai a atenção, e por isso agrada; atinge os seus fins quase sem esforço.
O seu agir é tão ordenado que só a custo se nota que ela actua - tem o sentido
da medida: era assim que era preciso agir; era assim que convinha falar; era
naquele momento que era preciso calar-se.
O exterior,
no entanto, não passa de um reflexo. O interior, aquilo que Tu, meu Deus, vês,
é o que conta realmente, isso é que é belo. Ora, esse interior está
completamente ordenado. Os menores movimentos interiores desta alma são cheios
de graça. Agradam-Te e Tu és juiz rigoroso. É que eles são completamente
inspirados pelo teu amor, que é o seu único princípio e o seu único termo. A regra
é esta: todos os pensamentos desta alma são pensamentos de amor; o mesmo
acontece com todos os seus desejos e todos os seus actos.
Uma harmonia
profunda reina nesta alma. O Artista das mãos hábeis – o Espírito Santo –
trabalha sempre. Da vontade, leve como a argila e forte como o ouro, Ele faz um
colar sem defeitos, que mantem todas as faculdades perfeitamente unidas entre
si. As sensíveis servem as interiores e obedecem-lhes. Estas, por seu lado,
obedecem às ordens da vontade ungida pelo amor divino. Todo este mundo
interior, assim ordenado, possui firmeza e fortaleza agradáveis aos teus olhos,
meu Deus, como uma participação na tua harmoniosa simplicidade, na qual
radicam, se o podemos afirmar, as tuas inumeráveis e infinitas perfeições.
Agora, basta uma palavra para exprimir tudo, quando Te consideramos sob este
ponto de vista: “Caridade”. Esta palavra basta também para exprimir tudo, quando
se fala da tua esposa.
Robert de Langeac, Vida Oculta em Deus
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