Se o sistema medieval tinha durado dez séculos, o absolutismo não durou mais que três. Menos ainda duraria o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade económica e política foi suficiente para tornar uns quantos capitalistas tão formidavelmente ricos que já não estivessem dispostos a ter de se submeter às incertezas do mercado que os havia enriquecido.

Queriam antes controlá-lo e, para o conseguir, tiveram primeiro de dominar o Estado para, através dele, poderem implementar as políticas estatizantes necessárias à eternização do seu oligopólio.

Com esse fim, estimularam e financiaram movimentos socialistas, comunistas e revolucionários em geral que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal à custa das estruturas de poder intermédio como a família, Igreja, estruturas orgânicas locais, etc., e, por outro lado, através do controlo das universidades e da cultura, arregimentaram um exército de intelectuais activistas que prepararam a população para dizer alegremente adeus às liberdades burguesas e entrar, sem pestanejar, num mundo de repressão invasiva e omnipresente (que se tem estendido até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem quotidiana) apresentado, no entanto, pelos mesmos intelectuais, como um paraíso com as abundâncias do capitalismo e a “justiça social” do comunismo.

Assim, os megas capitalistas mudaram a própria base do seu poder. Já não se apoiam na riqueza enquanto tal, mas no controlo do processo político-social. Controlo que, libertando-os da exposição às incertas flutuações do mercado, fez deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume, as vicissitudes da fortuna e a sucessão das gerações, permanentemente protegida pelos Estados e pelas “organizações internacionais”.

Hoje, já não são megacapitalistas; são metacapitalistas – uma elite que conseguiu transcender o capitalismo e transformá-lo no único socialismo que jamais existiu: o socialismo de meia dúzia de famílias que detêm 99% da riqueza mundial e dos seus funcionários e engenheiros sociais.

Resta saber que tipo de sociedade esta aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo, uma estrutura tão obviamente baseada na mentira, conseguirá durar.

Olavo de Carvalho , 2004

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