Alpalhão
DOMINGO NO ALENTEJO
Quase alegre, quase,
Quase triste, quase,
Não sei onde, algures, em qualquer taberna
Qualquer simples, terna,
Banal concertina
Mói teimosamente sempre a mesma frase.
Recomeça, insiste, - alegre ou triste? - insiste,
Nunca mais termina …
Pobre e cristalina,
Popular, vulgar,
Nada tem a frase de particular
Mas, lançada à branda brisa vespertina
Que ma traz,
Distante,
Quase alegre, quase,
Quase triste, quase,
Não sei por que algures, essa concertina,
Resignadamente, mói a mesma frase.
Vai a ir adiante,
Logo torna atrás…
Como uma saudade que nem é de nada,
Mas é bem saudade, seja do que for,
Como uma chuvinha plácida, obstinada;
Que, miudinha, invada,
Tudo de em redor,
Não sei com que lúbrica e subtil magia,
Quase alegre, quase,
Quase triste quase,
Me penetra todo de melancolia,
Me desfaz como pura nostalgia,
Me possui, me dói,
Dói gostosamente, é quase gosto, dói,
Essa renitente, persistente, frase…
Renitente frase
Pobre e cristalina,
Que na sombra, algures, qualquer concertina,
Resignadamente,
Diabolicamente,
Mói, e mói, e mói,
Quase alegre, quase,
Quase triste, quase…
José Régio, Colheita da Tarde
Comentários
Enviar um comentário