Boa romaria faz, quem em casa fica em paz
"Chesterton dizia que o capitalismo é uma heresia porque, em vez de olhar para as coisas criadas e ver que são boas (como Deus fez, no Genesis), quando as olha, vê-as apenas como bens de consumo e fontes de rendimento (assets): todas as flores, todos os pássaros, todos os pôr do sol, todos os cumes nevados, todas as estrelas são, pelo capitalismo, postos à venda, cada um com o preço correspondente.
A praga do turismo global representa, apenas, a última etapa desta monstruosa heresia, pondo o mundo inteiro em liquidação, para disfrute de hordas de consumidores insaciáveis e lucro dos insaciáveis donos disto tudo.
O cidadão global aproveita o fim de semana para “dar uma escapadinha” a Milão, Paris, Londres ou Nova York; e, se o fim de semana for prolongado, dará, talvez, um salto a Xangai. Mas, geralmente, aqueles que gastam o seu tempo em constantes escapadinhas a Milão, Paris, Londres e Nova York, além de não serem mais que uns consumidores compulsivos e uns globalistas-saloios, não passam de carcaças vazias, de sepulcros caiados, tristes pessoas que, numa agitação constante, procuram fora de si, o que em si não encontram - talvez por, no seu interior, só encontrarem esterco. E, para cúmulo, ainda têm o desplante de pregarem moralismo ambiental aos outros e quererem transformar o mundo inteiro num reflexo da sua alma.
Se, hoje, houvesse uma réstia de bom-senso, rejeitaríamos a loucura que nos levou a aceitar um modelo de organização social, económica e política decididamente desumano; e, com a abolição do globalismo capitalista, obrigar-nos-íamos, em vez de a um "Protocolo de Quioto", a um “Protocolo de Quieto” – e ficaríamos quietinhos na nossa terra, disfrutando das suas, por vezes bem melhores, belezas."
Juan Manuel de Prada
Comentários
Enviar um comentário