Cristo, sendo o nosso modelo, deixou-nos um roteiro para orientarmos as nossas vidas. É um roteiro perfeito, porque é divino. Se o examinarmos com uma visão comparável à duma fotografia aérea distinguiremos facilmente três tipos de paisagens bastante diferentes que ladeiam o caminho que um homem tem de percorrer até à sua morada eterna.
Em primeiro
lugar, há o espaço entre o nascimento e a adolescência, um tempo calmo,
despreocupado e feliz; este tempo Cristo passou-o principalmente em Nazaré.
Segue-se normalmente o período, longo ou curto, ocupado com o trabalho prosaico da vida, um tempo em que um homem encontra apenas os obstáculos comuns que fazem parte dela. Assim, nos anos da Sua vida pública, Cristo estava empenhado no trabalho de viver.
Só mais tarde, no clímax da vida, é que Cristo teve de enfrentar o território amargo do sofrimento e da morte que, rapidamente ou com demora agonizante, encerra inelutavelmente a vida de todo o ser humano.
Eis, pois, em traços largos, o mapa da vida de um homem: viver, sofrer, morrer.
O caminho está claramente marcado pelos
pés de Cristo; e, de facto, nas últimas etapas da viagem, os Seus passos estão
encharcados de sangue.
Não é sem importância o facto de Cristo, o nosso modelo divino, ter passado cerca de trinta anos, dos trinta e três que Lhe couberam viver, na normal actividade da vida, antes de mergulhar nas duas últimas etapas do sofrimento e da morte.
Porque viver é uma
preparação para o sofrimento; e, sobretudo, uma preparação para a morte. São longas, lentas e pacientes estas horas de preparação, que podem amargurar o
coração de um homem, pois só um mestre na arte de viver sabe sofrer, e
só quem conhece o sentido da vida pode saber algo da arte de morrer - a arte de entrar numa outra vida.
De certa forma, o sofrimento é um curso intensivo de aperfeiçoamento da vida.
Se, no início do nosso sofrimento, ainda não sabemos muito sobre o significado da vida, aprenderemos rapidamente, pois o sofrimento põe-nos no papel do nosso Mestre.
Só quando tivermos aprendido as lições da vida e do sofrimento, estaremos prontos para morrer - para entrar numa
vida maior.
Walter Farrel, OP, A companion to the Summa, Volume IV, pags. 106-107.
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