O Livro da Sabedoria de Salomão já fazia parte da Bíblia antes de Cristo vir à terra. Os protestantes, por razões só deles conhecidas, decidiram apagá-lo, da sua versão da Sagrada Escritura. No entanto, os temas abordados pelo mais sábio dos homens mortais - o rei Salomão - no Capítulo II, talvez  expliquem essa decisão:

 

1 - “Disseram, pois, os ímpios, no desvario dos seus pensamentos: O tempo da vida é curto e fastidioso, e não há nenhum bem a esperar depois da morte; e não se conhece ninguém que tenha voltado da sepultura.”

2 - “Porque do nada fomos nascidos, e depois desta vida seremos como se nunca tivéramos existido; porque o fôlego das nossas narinas é como um fumo; e a razão uma pequena centelha num coração fugidio.”

3 - “Que, uma vez apagada, reduzirá nosso corpo a cinza, e o nosso espírito se dissipará como uma aragem subtil, e a nossa vida se desvanecerá como uma nuvem que passa, e se dissipará como a névoa  impelida pelos raios do sol, e vencida pelo seu calor”.

4 - “E o nosso nome com o tempo cairá no esquecimento, e ninguém se lembrará das nossas obras”.

5 - “Porque o nosso tempo é como a sombra que passa; e não há regresso depois da morte; porque uma vez posto o selo e ninguém torna.”

6 - “Vamos, pois, gozar os bens presentes e apressemo-nos a usar as criaturas, como na mocidade.”

7 - “Enchamo-nos de vinho e de perfumes preciosos, e não deixemos passar a flor da primavera.”

8 - “Coroemo-nos de rosas, antes que se murchem; não haja prado algum onde a nossa intemperança não se manifeste.”

9 - “Nenhum de nós  fique sem a sua parte na volúpia; deixemos em toda a parte sinais de alegria; porque esta é a parte que nos toca, e esta é a nossa sorte.

10 - “Oprimamos o pobre e o justo, não poupemos a viúva, nem respeitemos cãs dos velhos de muitos dias.”

11 - “Seja, a nossa força, a lei e a justiça; porque aquilo que é fraco para nada serve.”

12 - “Armemos, pois, laços ao justo, porque ele nos é incómodo, e é contrário às nossas obras; e lança-nos ao rosto as nossas transgressões da Lei, e desonra-nos expondo as faltas do nosso procedimento.”

13 - “Ele afirma ter o conhecimento de Deus, e chama-se a si próprio filho do Senhor.”

14 - “Ele foi feito para repreender os nossos pensamentos.”

15 - “Só o vê-lo nos é penoso, porque a sua vida não é como a dos outros homens e o seu proceder é muito diferente.”

16 - “Somos considerados por ele como pessoas vãs; e abstém-se do nosso modo de viver, como de uma coisa imunda; e declara o fim dos justos bem-aventurado.”

17 - “Vejamos, pois, se as suas palavras são verdadeiras; e vejamos o que lhe há-de acontecer no fim.”

18 - “Porque, se é verdadeiro filho de Deus, Ele o amparará, e o livrará da mão de seus inimigos.”

19 - “Ponhamo-lo à prova por meio de ultrajes e tormentos, para conhecermos a sua mansidão e provarmos a sua paciência.”

20 - “Condenemo-lo a uma morte vergonhosa, e ver-se-á se mantem a sua palavra.”

21 - Assim pensaram os ímpios, mas enganaram-se; porque a sua malícia os cegou.

22 - Ignoraram os desígnios secretos de Deus; e não contaram com  a justa retribuição, nem fizeram caso da glória reservada às almas irrepreensíveis.

23 - Porque Deus criou o homem para ser imortal, e o fez à sua imagem e semelhança.

24 - Mas, pela inveja do demónio, veio a morte ao mundo;

25 -  E, encontram-na os que são do seu partido.

 

                                         *****

 Comentário:

 Aqueles de vós que viram aqui um prenúncio da paixão de Cristo e da paixão da Igreja nos nossos tempos, viram-no bem.

 E se, para além disso, viram uma condenação do hedonismo, do humanismo secular e um relato de como estes conduzem inevitavelmente à inveja e ao ódio contra os justos, talvez tenham visto também as causas da repressão que, contra cristãos, acaba por resultar inevitavelmente das ideologias modernas e do pensamento secular em geral.

 Note-se a fácil transição entre os versículos nove e dez: se a vida não tem qualquer sentido para além da procura da comodidade e do prazer, o que havemos de fazer com aqueles que nos incomodam ao dizer que a vida é, e deve ser, mais do que isso?

 Se a nossa justificação para nos entregarmos, por exemplo, à sodomia for que isso nos dá prazer e nos faz felizes, então, oprimir, atormentar e assassinar aqueles que dizem que os homens devem viver uma vida casta e limpa é necessariamente justificável.

O homens que proclama que a recta razão não é objectiva, e que portanto, nenhuma verdade poderá refrear as suas opiniões subjectivas, tendenciosas e egoístas; que nenhuma lei moral, nem nenhuma virtude poderão restringir os seus apetites; que nenhuma beleza na natureza ou na arte poderá guiar a sua alma; e que o que, para ele, somente  conta a sua vontade humana arbitrária, esse homem, com efeito, está a proclamar a sua intenção de abandonar a objectividade, afastar todos limites, arredar todas as restrições, ignorar todas as guias e portanto, abandonar a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

 Com efeito, ele está a proclamar que, uma vez que a verdade e a virtude morreram, poderá roubar, violar, escravizar, assassinar ou, ou fazer o que bem lhe apetecer aos que lhe caírem nas mãos.

 E, o idiota útil que faz eco das suas palavras pode, porventura, não partilhar inicialmente das suas ímpias intenções mas, aquele que segura a escada, não é menos culpado da transgressão do que aquele que escala o muro.

John C. Wright

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