Poder-se-ia dizer que existem em nós duas vontades: a da razão e a dos sentidos. A primeira é a vontade racional, superior, e a segunda é a vontade sensual e inferior, também conhecida por apetite, carne, sentidos ou paixões. Nós somos homens pela razão, e, por tal motivo, quando desejamos alguma coisa só com os sentidos, não a estamos verdadeiramente a querer, enquanto a vontade superior ou racional não se inclinar a querê-la. Toda a nossa batalha espiritual se resume a este combate: a vontade racional, colocada no meio, entre a vontade divina e a vontade dos sentidos, é solicitada por ambas e tentada a se sujeitar a uma ou à outra. Grande pena e fadiga experimentam, especialmente no começo, os que estão mal-habituados, quando se resolvem a mudar a sua vida e a desprezar o mundo e a carne, dando-se ao amor e à servidão de Jesus Cristo. Os golpes que sua vontade superior ou racional sofre da vontade divina, por um lado, e da vontade sensual, por outro, sempre a guerrearem-na, são fortes e renhidos e fazem-se sentir não sem grave pena. Isto não acontece com os que já estão habituados ou à virtude ou ao vício, e pensam em continuar na mesma vida. Os virtuosos, com toda a facilidade se curvam à vontade divina. E, os viciosos, com a maior docilidade atendem à voz dos sentidos.

São Pedro de Alcântara, Tratado da Oração e da Meditação


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